As
atividades extracurriculares extremamente rentáveis
Quando
ela bebe perde completamente a compostura, é literalmente outra pessoa, o
oposto do que se está acostumado a ver. Aquela gentileza tranquilizadora, a
tendência a dourar a pílula e resolver as coisas sem conflito, mesmo que
injustamente perca e engula sapos somem imediatamente dando lugar a uma leoa
enjaulada e faminta cuja tranca foi aberta instantaneamente em meio a inúmeros
desavisados de todos os tipos.
Geralmente
ela sabe que precisa manter-se longe das bebidas, e tenta ferozmente em
churrascos, baladas, velórios e happy hours, e esses eventos não faltam para
ela, embora à primeira vista represente visualmente uma ex-freira virgem de
trinta e poucos anos, longos cabelos compridos, óculos de grau e saia larga
plissada.
Era
a imagem da austeridade e da consciência limpa, séria e respeitada como
profissional, admirada e imune à cantadas estúpidas e infantis. Os homens a
respeitavam tanto que beirava o temor. Mesmo assim não era colocada à margem
das festas e comemorações porque era inteligente e divertida. E sempre
surpreendia após o terceiro drinque, livrando-se dos óculos, abrindo quatro
botões da blusa, erguendo a saia acima dos joelhos, enrolando-a na cintura.
Quando
o primeiro drinque surgia em sua delicada mão, os companheiros de trabalho e
frequentadores assíduos do bar entravam em polvorosa, porque lá vinha show
liberal e sexy de graça.
Um
colocava música, outro incitava através de palmas, outro preparava o celular
para gravar os vídeos, postados depois nos grupos de WhatsApp internos. Sempre
a protegiam, não permitiam que os vídeos se espalhassem pela internet e
difamasse a sua estirpe de mulher conservadora. Tudo era para consumo privado.
Postes
de pole dance, canções sensuais acompanhadas por palmas e incentivo ao strip
tease eram eficazes, bem como a substituição dos copos vazios por novos
drinques, um atrás do outro e mais forte do que o outro. O lema era manter a
garganta da moça sempre molhada.
Em
determinado momento da noite, rebolando só de calcinha recebia notas de dois,
cinco e até dez reais em torno de suas partes íntimas. De vez em quando, quem
estava posicionado em um ângulo melhor doava até cinquentinha!
Na
alta madrugada ela descia para a pista e se permitia bolinar e ser bolinada. Beijava
a la vonté e quando sorteava um para o fim de noite o serviço era completo e
feliz!
No
dia seguinte, no escritório ninguém comentava nada, era como se nada tivesse
acontecido, e ela não demonstrava nenhum constrangimento, porque era do tipo
que esquecia totalmente o que fazia sob efeito do álcool, e isso era uma
benção! Todos saíam ganhando!
Entretanto
era ela quem ganhava mais, se fôssemos além da mera diversão e do gosto pela
bebida. Financeiramente, naquela brincadeirinha sem maldade, ela faturava
quinhentos, seiscentos reais por festinha, livre de impostos e sem precisar
pagar as bebidas que ingeria em grande quantidade.
As
economias que juntara já lhe possibilitavam comprar um apê na praia e um sítio
no interior. Os investimentos em criptomoedas iam d evento em popa, e antes dos
quarenta poderá se aposentar, caso o queira. Moral da história: os limões da
vida podem virar limonada ou caipirinha; a escolha lhe fará mais ou menos rico,
com toda a certeza.
Marcelo Gomes Melo
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