A permanência sob os temporais
Eu
quero permanecer sob a chuva, o mundo está tremendo como os meus sonhos.
Aturdidas, as pessoas procuram lugares em que se esconder para observar os
raios e sentir os estrondos dos trovões impiedosos, atestando que há algo de
beleza no que, ao mesmo tempo é assustador.
Eu vou permanecer sob a chuva densa
que empana os olhos e massageia o lombo sem pesar, lavando a alma, esquecendo
coisas, percebendo que a maior importância reside naquele exato instante e não
no que compõe a vida, passado e futuro.
O momento que desnuda o ser, uma
raridade em uma sociedade oposta; a verdade é que esses momentos acontecem
diversas vezes, mas poucos têm a coragem ou o interesse em reconhecer, porque
equivaleria a assumir uma enorme mudança, uma guinada total, sem concessões
para o restante da existência.
Sob a chuva, o temporal, nada importa
se você acreditar que o sol logo estará misturado, e em sequência assumirá o
comando por um bom período. O sol é a realidade mais comum, não assusta as
pessoas e costuma cobri-las com qualquer surpresa. Os temporais também
acontecem para todos, mas não costumam ser abraçados por todos, encarados de
frente e superados como é feito com o sol.
Eis que pretendo confrontar os
temporais, tirar o melhor das minhas dúvidas, sobreviver à escuridão momentânea
que pode assombrar por um período, mas jamais para sempre, e o resultado sempre
dependerá da força interior, das escolhas pessoais, do imponderável que é estar
sob a chuva, só, feliz, triste, igual.
Marcelo Gomes Melo
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