Ele
possuía a espada corta-lágrimas. Uma lâmina tão afiada que decepava as lágrimas
do inimigo antes mesmo de alcançar-lhe o pescoço, separando-o definitivamente
do corpo.
Para merecer tal armamento era
necessário ser, antes de obtê-la, um excepcional guerreiro, o mais temido e
respeitado por todos, com grande habilidade para debelar rebeliões, destruir
injustiças e cultivar uma conexão com o divino.
A honra do guerreiro e as atitudes por
ele tomadas diariamente, o compromisso com a sociedade e o respeito às regras
de convivências, explícitas ou subliminares eram ponto chave para a glória
ímpar de poder empunhar a espada corta-lágrimas.
A ideia é fazer justiça de acordo com
a visão de um dos lados, preferencialmente da maioria, porque isso seria uma
bela amostra de democracia, mesmo em época rigorosa na qual mortes eram mais do
que naturais, até justificadas, e resolviam problemas grandes ou pequenos. O
mais poderoso sofria menos, e todos tinha noção disso, colocando-se em suas
castas conforme o nascimento e esperando sobreviver o tempo que fosse possível.
Poucos tentavam subir na hierarquia,
saindo de uma posição inferior para galgar degraus que lhes permitissem maiores
vantagens, maior respeito, riqueza e consequentemente responsabilidade.
O
portador da espada corta-lágrimas gozava de grande prestígio, mas isso custava
dormir sempre atento, jamais dar as costas a ninguém, porque qualquer vacilo
criaria em espaço para a derrocada, elegendo um novo herói. A vida do portador
da espada estava sempre em risco, e o seu dom de julgar rapidamente
significaria viver mais um dia. Também significava matar inocentes, ir além do
necessário, ser impiedoso e considerar como ofensa a mínima situação.
A vida de herói não é fácil. A vida de
um virtuoso é testada diariamente, e o seu julgamento final não tem garantias
de ser bem-sucedido, porque a humanidade é, por natureza injusta, as condições
de vida são injustas, embora justiça seja um alvo perseguido a ferro e fogo por
todos durante a existência. Muitas vezes definindo erroneamente o que é
justiça. Para muita gente justiça é aquilo que lhes favorece. E nem percebem o
egoísmo contido em tal definição.
A afiada espada corta-lágrimas é um
instrumento controverso, caso haja uma reflexão a respeito. Mas refletir é
improdutivo, nesse caso. A humanidade parece necessitar de pacificadores para
equilibrar a balança da vida e da morte.
Marcelo Gomes Melo
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