Sobre
sombras, as sobras do que o dia preencheu na sua vida, interpelando a sua
capacidade de agir como um cidadão de bem no meio das enrascadas inevitáveis
que lhe fazem duvidar da própria sanidade.
Mesmo que o sol brilhe e lhe faça suar
na correria infame por reconhecimento, as sombras estão lá, gelando a espinha,
arrepiando a pele sensível, provocando a sua motivação para disfarçar
orgulhosamente, demonstrando aos outros o que está longe de ser. Patético por
achar que ninguém percebe. Todos fingem que acreditam porque estão na mesma
barca furada em alto mar, cada um com os seus próprios problemas, com a nuvem
negra particular que encharca a alma e enfraquece as pernas, retirando dons que
você nem imaginava que tinha.
As sombras não lhe descansam, lhe
escurecem a alma, arrancam a vontade de lutar, transformam em seres reclusos
quem deveria acreditar nas maravilhas que os circundam, exemplos para continuar
e vencer simplesmente porque a vitória é algo natural, comum e esperado nas
circunstâncias que regem a existência.
Os sobreviventes contestam as sombras
e as sobras, se recusam a entregar de bandeja as ferramentas inerentes a quem
existe para resistir, e para quem a felicidade é resultado de pequenas coisas,
merecidas e conquistadas sem transformar em concorrentes quem apenas é mais um
na corrida pela realização dos sonhos mais inacreditáveis.
Não é que as sobras devam ser
descartadas e ignoradas, mas sim reconhecidas como complemento necessário à
manutenção da dignidade.
O resto se modifica virando mágoa para
os fracos de caráter e pobres de coração.
Marcelo Gomes Melo
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