Anoiteceu
em minha alma e agora não consigo mais falar sobre amor verdadeiro e suas
derivações. Eu perdi a visão que ia além da realidade e alcançava o âmago das
paixões para descrevê-los tão bem quanto as sentia.
O
vigor que me proporcionava amar há muito se foi, e as minhas forças se resumem
a meramente sobreviver nesse espaço gélido e inóspito entre o existir e o viver
sem parcimônia; eu morro o tempo todo apagando as belezas coloridas e
maravilhosas com o meu olhar acinzentado. Não ouso gemer, sequer, para não
denunciar a minha ausência através do mais triste som.
A
razão para uma alma jamais amanhecer não é o conjunto das decepções que o amor
costuma pregar, pois essas peças, por mais dolorosas que sejam, costumam
cicatrizar com razoável rapidez, embora retornem de tempos em tempos para se
fazer eternas, marcas das infindáveis batalhas da paixão.
Uma
alma anoitece de forma permanente quando se recusas a mudar de amor, com todos
os desvarios, ferimentos e tristezas que o compõem. Quando nenhum benefício
carinhoso e atencioso é suficiente para resgatar do limbo os pensamentos
tormentosos e as falhas impossíveis de consertar nesse nível.
Eis
a razão pela qual não se pode mais falar de amor, muito menos senti-lo de outra
forma, porque o amor perdido continua tatuado a ferro e fogo sobre um coração
engaiolado para sempre. Deixar de amar é impossível, mesmo afogado em um sofrer
incontável.
Marcelo Gomes Melo
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