Nos
meses de outono sob o luar frio e o ar gélido, em plena madrugada eu caminho
tranquilo, carregando as minhas dores, observado pelas flores que desabam das
árvores suavemente, justo à minha passagem, como se homenageassem a minha
tristeza controlada, o nexo dos meus pensamentos desencadeando nelas uma reação
natural maravilhosa.
Com as mãos enluvadas devidamente
protegidas dentro dos bolsos do casaco, caminho lento, um tanto trôpego,
divagando sobre sei-lá-o-quê! É isso o que me ajuda a respirar! É isso e mais
as estrelas, que desenham inúmeras formas, todas elas infalíveis para quem
sofre dos males de amor.
E os escritores perguntam em voz alta
e agressiva, antes de entornar o resto do conhaque no copo, causando no corpo
um fervor interno digno de um vulcão prestes a explodir impiedosamente: como
falar com propriedade sobre algo que não se viveu? Como transformar em fantasia
a realidade que muitos já experimentaram, e até hoje carregam as marcas no
corpo e na alma.
Nos meses de outono, ante aquele
entorno silencioso o meu coração grita, acordando a todos os que ainda
acreditam e formam a legião dos incompreendidos, dispostos a arriscar
sorrateiramente o que não fariam jamais sob um sol perscrutador e impiedoso.
O fogo da paixão transforma-se de
acordo com a faixa etária, a experiência e as necessidades que movem o mundo
através de cada engrenagem.
Não se enganem, o outono, quando as
folhas caem, realizam milagres de mudança pessoal, em partes igualitárias como
uma bela árvore que perde a folhagem e expõe-se despida, uma beleza especial
aparentemente destrutiva, mas disposta a recomeçar do zero e, no próximo verão
oferecer belas sombras aos que nem sabem o quanto é preciso ficar nu diante dos
seus pesares até recomeçar, produzindo beleza, tristeza e certeza.
Marcelo Gomes Melo
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