Um manto de tristeza e dor
Eu
não enxergo beleza nas coisas faz muitos anos. Os sabores, para mim, não se
distinguem, são sempre os mesmos, sem sal e sem açúcar, sem temperos que
valorizem qualquer tipo de existência ou necessidades.
A natureza é surreal para os meus
olhos, sem cor porque não há tons que a diferencie, nada além de um imenso
corredor em linha reta, indiferente e frio, sem desvios, sem surpresas, e eu
não tenho vontade alguma de olhar em torno porque encontrarei apenas destruição
e um barulho repetitivo, apavorante, uma tortura impossível de aguentar.
Em mim, um silêncio de vontades, uma
quietude de ideias em uma imensidão de pensamentos inexistentes.
Caso consiga me concentrar ouvirei,
nos intervalos do inferno de estática, as batidas fracas, insensíveis do meu
coração.
Talvez essa descrição não retrate a
realidade, mas a visão individual do mundo em que habito, com boas chances de
que os meus olhos e as minhas sensações sejam a razão única para tanta morbidez
e falibilidade.
Dentro de tanta desolação, só é
possível reconhecer a fonte para algo tão triste, para um mundo em profunda
inércia, corroendo-se à volta, lentamente, sem retorno, e esse reconhecimento é
o que me mantém lúcido por tempo indefinido.
A lucidez é um valor digno de nota,
que mantém o seu detentor no jogo da vida real, em que pese todos os terrores.
A culpa dessa visão tortuosa cabe exclusivamente a uma só pessoa, um homem que
percebe que o manto da tristeza e dor pode ser retirado a qualquer momento, e
ninguém além dele pode resguardar forças para tal reação, e essa pessoa sou eu
mesmo.
Marcelo Gomes Melo
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