A rocha transformada em pedregulhos
A
rocha que se parte em pedregulhos dormiu em autossuficiência. Cansou de
resistir através dos tempos de modificação natural, do desgaste de permanecer
imóvel, sem temor diante da iminente destruição do ambiente como é conhecido.
O testemunho das grandiosidades, a
fotografia das crises que resultaram em catástrofes, o destino de existir como
um marco em determinado lugar faz da rocha a maior mantenedora da história do
mundo, muda, inclemente, resignada e ignorada, até que desiste de seus
desígnios enquanto pedra fundamental para quebrar-se, desmantelar-se em
pedregulhos insignificantes e utilizáveis.
A decisão para isso parece em
princípio, tresloucada, para quem não passou séculos sendo rocha; no entanto há
um motivo, e ele soa muito razoável da perspectiva de quem exercia o poder
imutável e imóvel por tanto tempo, com pouca efetividade na opinião dos que
zombam do tempo.
Pedregulhos transformam-se em armas
imediatas, se espalham por todos os lugares e causam pequenos danos,
influenciando situações em contundência maior, embora com menor relevância.
A troca entre o tipo de poder
instantâneo e o poder imortal depende da rocha em si, e suas intenções na participação
universal intrínseca à sua existência.
Os pedregulhos se desfazem e
misturam-se ao pó, mudando a sua forma e função universal, sendo esquecidos
para sempre, inclusive terem sido fruto de uma última ação rebelde da rocha.
Marcelo Gomes Melo
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