Pseudo-Psycho
Atrás
dos ataúdes atolados na lama e ensopados por uma garoa gelada, insistente,
constante, persistente em sua vontade de matar, por bronquite ou de tédio, há
uma figura brilhante, escondida. Fulgurante mesmo, bastando querer.
Essa figura é metódica, estoica, quase
a imagem do desinteresse, fria em suas atitudes e completamente desligada do
mundo. Tudo em seu comportamento difere de sua aura maravilhosa. Ela dedica-se
mais ao plantio do que à colheita, talvez por escolha própria, talvez cumprindo
ordens superiores.
O terreno baldio desemboca em uma
rampa enlameada que encaminhava a lugar nenhum. Algumas árvores esquálidas,
antigas e cinzentas enfeavam em vez de enfeitar aquela cripta a céu aberto,
aquele indício de morte patética, risível e apavorante.
Dentro dos ataúdes, no escuro do
espaço confinado, diversos psicopatas nojentos, restos mortais de seres
indomáveis, maldosos, piratas amotinados assaltantes de ideias, de sonhos e
comportamentos honrosos, hordas de canibais financeiros com dentes quebrados
por moedas de ouro, horríveis monstros empalados como punição por sua
existência inútil, moribundos enquanto viviam, protegidos enquanto mortos.
Sua proteção advém do calor no
interior do caixão, coisa que não precisam, mas que a figura brilhante não
possui. Estão secos sob a madeira de seus paletós iguais, produzidos em linha,
da mesma forma que seus pensamentos amaldiçoados.
O
porquê de a guardiã dos ataúdes não espalhar sobre o local maldito todo o seu
brilho, energizando o espaço e lhe modificando o aspecto tem muito a ver com a
própria responsabilidade: não oferecer àqueles diabos chance nenhuma de fugir
da tortura infinita merecida, tendo em vista as atitudes cruéis e insensíveis.
São almas condenadas por tudo de ruim que representaram em vida advogados,
jornalistas, políticos, assassinos, pedófilos, estupradores...
A figura escolheu retrair a sua luz,
apagar o seu fervor, distanciar os seus desejos, existir em total abstinência
apenas por uma causa. Uma causa maior, mas que poucos cumpririam sem nada a
ganhar, mesmo tendo tanto a oferecer.
Quem, afinal é o psicopata? O que fez
e morreu, ou quem abdicou dos seus próprios prazeres para manter o sofrimento
perpétuo aos insanos merecedores? Quem sorri enquanto o violino toca? Quem pune
a quem? Quem?!
Marcelo Gomes Melo
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