Os últimos momentos da capital da nação
Quando
observo daqui de cima só vejo belezas naturais. Vejo também uma distribuição
urbana desigual, confusa inclusive, e uma área rural imensa e rica, mas em
escombros.
As avenidas que deveriam fazer a
interligação entre essas zonas parecem a superfície lunar, repletas de buracos.
Para ser grato, a superfície oculta da lua, escura, como cantou a banda Pink
Floyd em áureos tempos.
No meio dessa fauna e flora, seres
humanos se movimentando como formigas, de um lado para outro, em um pandemônio
real e tenebroso. Com a diferença de que as formigas trabalham duramente para a
sobrevivência, enquanto os homens e mulheres, atônitos, sem emprego, sem
hierarquia, sem ideais e sem valores morais, granadas humanas prontas para
explodir a qualquer momento.
Daqui de cima, preparando a vingança
final, observo o dia lindo e ensolarado, o céu azul de brigadeiro enquanto o
marco político da capital me parece duas latrinas sujas de praça pública,
enegrecido pela presença dos maiores bandidos da humanidade. A essência da
corrupção, um organismo vivo e pegajoso que se espalha e toma conta de todos.
Quando embico o avião carregado de
explosivos para o alvo de toda a sacanagem me sinto um piloto kamikaze, ou um
terrorista islâmico maluco. Mantenho os olhos bem abertos para tentar enxergar
a explosão monumental assim que mergulhar no mar de chamas que eliminará da
face da Terra boa parte da corrupção ativa e passiva mais desprezível do universo.
Será uma versão parecida com a
destruição das Torres Gêmeas, dirão os historiadores, sedentos em copiar até as
desgraças estrangeiras.
O
mergulho final. O estrondo fatal. Destruição completa do covil dos políticos
corruptos!
Acordo me debatendo na cama, suado, o
coração a mil. O vizinho já estava a toda fazendo barulho com o cortador de
grama.
Passados alguns segundos me dou conta
de que foi apenas um sonho feliz.
Marcelo Gomes Melo
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