Assustadora nuvem de abelhas rainhas
Assustadora
nuvem de abelhas rainhas sobrevoam a cidade ao anoitecer, tomando conta de
todos os pubs, boates, oficinas mecânicas, postos de gasolina e supermercados,
espalhando ferroadas a esmo, zumbindo hipnoticamente, colorindo a vida pacata e
oferecendo aos párias a chance de se perder além do álcool que entorpece o
cérebro e amortece o corpo.
Envolvem com asas de seda enquanto
sugam energia vital imprudentemente; algumas envenenam, outras salvam. Todas
viciam.
A nuvem de abelhas destila mel e adoça
os lábios com competência, comandando pelo prazer, instigando pela probabilidade
de cunhar belas frases nas lápides dos que perecem felizes, e vagam através do
além aguardando outras vidas para repetir o sentimento único, o tesão que
comove e envolve, arruína e amaldiçoa em níveis indescritíveis.
À noite todos os gatos são pardos,
todas as abelhas são rainhas, todas as loucuras são permitidas e todos os
pecados serão devidamente registrados e cobrados no momento adequado.
As
luzes se apagam e o brilho delas chega a cegar. Nada é de graça, e para
alcançar o status de poder saborear o puro mel é necessário arriscar a vida.
Ao amanhecer a nuvem de abelhas
rainhas evapora no ar, e os menos mortais não mais as percebem pelas ruas sob o
sol, no metrô, armazéns e caixas de Banco, discretas, sensíveis, liderando
psicologicamente, esperando pacientes a chegada de uma nova noite para
encontrar os seus súditos e repetir os jogos emocionais que enfeitam a
existência.
Marcelo Gomes Melo
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