Viver sob os próprios termos ou ser enganado
Ninguém
se torna frio e distante do nada. Uma personalidade não se transforma do dia
para a noite sem acontecimentos marcantes que o obrigue a, sem perceber,
modificar-se.
Há um caminho a seguir até o estágio
polar. Primeiro um entristecer comedido e surpreso que vai aumentando
gradualmente, sem motivo aparente. Depois a tristeza profunda que confunde e
afunda em uma escuridão densa e aterrorizante, fazendo-lhe pensar em um retorno
impossível.
Isso machuca e enfraquece, mas ainda
assim não é suficiente para decepar-lhe as mazelas e, com elas, a vida torpe
que invade os seus dias.
O seu mundo ficará cinza, e o coração,
gelado. Você sai da escuridão, mas o preço é o kit que abandona por lá: da
alegria não sobra resquícios; da confiança, zero. Dos sentimentos, coisa
alguma. O lado bom é que os sentimentos maus também ficam.
Você retorna para um mundo paralelo,
em que tudo é igual, menos você. Fica estranho mesmo quando deseja se enturmar,
e mortal quando se afasta a ponto de alguém perceber a sua existência.
O melhor é habitar sombras seguras e
sair sob o cinza de vez em quando para continuar a ser considerado um ser
humano.
Seguindo essas regras tudo ficará bem,
ninguém mais se machuca e a roda da vida continua girando naturalmente.
Todos
terão os próprios problemas em níveis diferentes, o seu quinhão de sofrimento
de acordo com o que estiver escrito, e felicidade, que é tudo o que a maioria
dos seres chegam a provar em uma vida inteira.
A distância e a frieza são apenas
armaduras as quais lhes vestem sem que perceba, e servem bem na proteção das
expectativas.
Envelhecer significa sapiência e
descrédito a respeito das armadilhas doces que são colocadas durante a
existência para amenizar os obstáculos e as dificuldades, evitando tomadas de
decisão corrosivas que interrompam de alguma forma o prosseguimento do próprio
destino. Então, teoricamente, o verdadeiro destino nunca se cumpre, apenas o
ilusório. Então é melhor viver em seus próprios termos ou ser enganado para
sempre?
Marcelo Gomes Melo
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