Eliminando o fator escuridão
Apague-se
a luz e todos os gatos serão pardos. O medo e a expectativa tomarão conta dos
corações, o tato e o olfato assumirão o comando. Os passos incertos denotarão a
insegurança completa do momento. Tudo pode acontecer, e tais acontecimentos
dominarão o pensamento dos presentes, que têm uma única certeza: não têm a
noção de como as coisas que acontecerão, já que estão ali justamente para que
coisas aconteçam sem o seu controle, embora com total aquiescência.
Na escuridão que se segue, o silêncio
aparece, profundo, desde o início, fruto da precaução. Com o passar dos
segundos o som retorna, aos sussurros, para depois, no auge, virar grunhidos,
gritaria, gemidos e conversa alta, um burburinho assustador para quem não
participe.
Mesmo sem enxergar, logo todos os
participantes relaxam e vão se tornando confiantes, movimentando-se sem nenhum
temor, reconhecendo através do tato e do olfato tudo o que está ao redor. A
confiança transforma o medo em ousadia. A partir daí tudo vale a pena, se a
safadeza não for pequena, parodiando Fernando Pessoa em nível bastante
inferior.
Todos os que se dispõem a arriscar a
dignidade que, hipocritamente ostentam durante o resto do ano (excetuando-se
outras datas apropriadas para a lascívia coletiva), atiram o falso
conservadorismo no lixo, esquecem dos discursos pudicos que os representam e
viram todos apenas sensações, apenas corpos protegidos pela escuridão abertos para
os prazeres, conhecidos ou não.
Agora, retire dessa equação o fator
penumbra. Acenda as luzes e preencha a escuridão reinante com a chance de enxergar.
Ver a tudo o que acontece em toda a sua expansão, em todos os detalhes, a
chance de fotografar, filmar, registrar todos os acontecimentos... Muda tudo.
A
partir desse momento o que já estava controlado e dominado muda outra vez. O
retorno da insegurança de ter sido pego em algo que não tem mais como esconder;
o medo de passar ridículo ou se tornar vítima de chantagens; a aparição de um
ângulo novo do caráter antes mantido a sete chaves...
Muda tudo. Mas não se assuste, o nome
disso é carnaval.
Marcelo Gomes Melo
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