Os sábios desvairados e a angústia imortal dos suicidas
Quando
o céu não é mais azul, apenas escuridão sombria assustadora, e os relâmpagos
são flashes insaciáveis destruindo aos sábios impiedosamente, os trovões são
anúncios oficiais de mais uma morte.
Quando jardins viram pântanos e não
existe mais praia, só areia movediça sugando lentamente vidas e ideias para um
limbo voraz, passa-se a entender que o mundo nada mais é do que um aglomerado
de partículas de dor e sofrimento eterno; uma bolha famigerada que reúne coisas
e manipula a forma como tais coisas são vistas por cada um.
A poesia nada mais é do que uma
maneira de o poeta tentar acreditar no enternecimento tosco do olhar alheio. De
buscar a crença vazia dessas pessoas desprovidas de visão para utilizá-la como
um bálsamo para as aflições diárias.
O
amor é um substantivo impertinente, dose de enganação inventada para manipular
as massas, que passam toda uma vida procurando defini-lo, e isso parece lhes
dar algum tipo de prazer mórbido.
O verbo amar os faz agir
tresloucadamente, matar ou morrer sem saber nem de longe o porquê; apenas
mantendo a ilusão de agir em prol de um benefício maior. Santa inocência!
As massas precisam existir, pois serão
manipulados de todas as formas, sem perceber como são conduzidos bovinamente
aos seus parvos destinos, sempre sorridentes e mansos, incapazes de qualquer
atitude extrema. Mesmo quando acreditam estar se rebelando, são vítimas de
arroubos provocados por choques elétricos aplicados por bastões, fazendo com que
se comprimam e urrem. Depois um torrão de açúcar os deixará calmos e crentes de
que venceram uma batalha a qual nem saberão nomear. A ignorância é bondosa com
os apaixonados e com a população anestesiada, criados para acreditar. Apenas
esses são capazes de suportar viver por mais tempo. Anseiam por isso, até; não
importa o quão massacrados o sejam.
Já
os sábios... Esses ficam logo desvairados. Percebem que todo o verde é, na
verdade marrom; que o ar respirado é tóxico e que não há ninguém capaz de
entender o que sentem, nem de apoiar, envolver ou amar. Embora usem
constantemente essa palavra por razões que a própria razão desconhece.
Os sábios são os loucos varridos,
alijados da sociedade por tentar
sobrepor-se ao sofrer e esclarecer as ilusões a quem não tem a mínima
capacidade para compreender.
É a massa que crê ajudar com suas
palavras decoradas, frases de efeito perfeitas para o próprio engodo; com seu
dinheiro e sua pena compulsiva; demonstração de dó pelos outros que fixa a sua
sensação de superioridade; a existência de seres que são inferiores a eles, e
portanto, dignos de pena. Isso lhes faz um bem enorme. Sorriem do alto de sua
incapacidade letal proclamando que todos são iguais, quando as atitudes provam
o contrário.
São os suicidas covardes que desistem
de uma vida longa de tortura e incompreensão, cinzenta e gelada, maquiada por
sóis coloridos e invenções criminosas, ou corajosos que percebem cedo a inutilidade
de preencher um espaço predeterminado em um mundo falso que os chicoteia vinte e quatro horas
por dia.
A
morte é um poço sem fundo, universo escuro e vazio; e quando se atira você vaga
para sempre cercado de um silêncio voraz que lhe corrói as entranhas pela
eternidade, mas você finalmente descobrirá quem é, e o que faz vertiginosamente.
Eternamente. Caia!
Marcelo Gomes Melo
Você anda meio sinistro meu amigo.
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