Para
todos os virgens que possivelmente ainda hei de encontrar. Esse é um estado
original, mas passageiro, que mudará de acordo com a experiência de vida que
for sendo adquirida, o ambiente no qual se encontrem, os pensamentos que desenvolvam
e as situações que se lhe apresentem. Trata-se de uma escolha, embora possa
acontecer a mudança sem que percebam, naturalmente. É muito improvável que
demore para acontecer, porque esses são casos menores, não há registro de que
um ser humano passe todo o tempo de vida em completa ignorância, sem nenhum
traço de evolução.
Não
tratamos aqui do aspecto sexual, como podem direcionar o pensamento alguns mais
afoitos, mas de algo maior, que é o conhecimento. É certo que há um
conhecimento intrínseco, que vem de fábrica, e garante a sobrevivência
imediata, ao qual chamamos instinto. Ele não garante o desvirginado
intelectual, é um acessório extremamente útil durante a lapidação da capacidade
de se comunicar corretamente, conhecer o mundo e os seus objetos, as culturas e
as suas dimensões, o mal que se abriga no coração do homem e a força dessa raça
para se integrar e agir em conjunto quando necessário.
Aos
virgens ainda se reservam as decepções, sobretudo as amorosas; e as
felicidades, sobretudo as amorosas. Os desencantos com as atitudes amorais e
imorais de seus pares, as descobertas polêmicas que vingam e eternizam um
gênio, ou causam tamanho desconforto que viram um marco negativo e demonizam o
seu inventor para sempre.
Cabe
deixar aflorar os sentimentos para aferir as sensações, o que pode ser tarefa
inglória por necessitar de equilíbrio, que demora a ser alcançado por ser um
prêmio valioso que precisa ser encontrado já em estágios superiores, porque em
contrapartida ele arranca os arroubos de emoção que provocam erros, fazem o
sangue gelar e o corpo estremecer, e isso é necessário ser vivido a todo custo
para que se considere a existência em sua plenitude. Tudo vem perfeitamente
planejado desde o início. Alguns fogem do caminho, escorregam e se perdem na
escuridão. Outros conseguem o que querem em níveis diferentes, considerando
ambição, força de vontade, esforço pessoal... Comodismo, tranquilidade,
satisfação reduzida a poucos itens, minimalistas.
Deixo
um adendo particularmente interessante: existem os que acreditam piamente não
haver mais virgens nesse mundo torto, vilipendiado. Estão enganados, os virgens
continuam a ser produzidos e a eles caberá o fardo de consertar o que se perdeu
através dos tempos, um nível extra de dificuldade por terem que lidar
primeiramente com o próprio aprendizado, o que já é desgastante, embora
maravilhoso. Algo como contemplar o reino de Deus de uma esfera cheia de falhas,
buscando compensá-las o tempo todo, errando e consertando, fazendo da vida algo
raro, digno de pleitear e viver a fundo.
Aos
virgens que porventura ainda hei de encontrar, os meus respeitos! Talvez seja a
minha função ajuda-los na árdua tarefa de se inserir do lado de cá da força.
Será bom, acreditem.
Marcelo Gomes Melo
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