Os
séculos caíam sobre as minhas costas, inclementes, ditando regras,
enfraquecendo a minha vontade, me empurrando à beira da loucura e puxando de
volta rapidamente, deixando tempo suficiente para que eu imagine pelo resto da
vida o terror incutido na verdadeira loucura.
Assumir
um torpor momentâneo, ainda que injusto, servia apenas como ilusão com vista
para o paraíso, falso descanso antes do terremoto emocional que se abate
impiedoso sobre essa carcaça cruelmente massacrada sem chegar ao ponto de
destruí-la eternamente.
Trata-se
de tortura elementar, morte fake, ressurreição constante para fazer relembrar a
miséria inigualável e inacabável, corroborar a facilidade humana, o quão
diminutos somos nessa imensidão universal.
O
sofrer é inevitável, e as pequenas doses de alegria e conforto são ofertadas
como paliativo para interromper a sequência aterradora de dissabores e
lamentações.
Hoje,
dia indeterminado para o resto da minha vida, observo as luzes da cidade à
noite, aguardando mais um amanhecer pálido, sem significado, sem motivação,
apenas a continuidade de uma existência insana, caótica e consequentemente
irrisória.
Marcelo
Gomes Melo
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