O
sistema ambiental sobrecarregado começa a transbordar as suas queixas através
da queda de barragens, chuva intermitente fora de hora, mudança climática
constante causando distúrbios físicos nos seres humanos, assombrando os cientistas
e entregando farto material aos teóricos da conspiração e aos profetas do
apocalipse.
A
população se divide entre assustada e indiferente; uns juntando coisas,
preparando-se para o apocalipse, o final dos tempos, sacrificando animais e a
própria vida; outros recusam-se a discutir essas supostas bobagens, apenas
culpam o governo pelas enchentes enquanto atiram latas de refrigerante pela
janela do carro, entupindo bueiros, amaldiçoam aos chefes, a distância, o
trabalho, o trânsito...
A
reportagem cobre a tudo com um tom intencional de desastre, cobram aos
governantes, entrevistam a quem perdeu tudo, lucram com a desgraça alheia. Isso
dá IBOPE. IBOPE dá patrocinadores. Patrocinadores dão dinheiro. Dinheiro dá
poder. Poder... Dá qualquer coisa.
Tudo
se repete ano após ano, da mesma forma que antes, os problemas não resolvidos
são os mesmos, a angústia se repete, mas a atitude não. Anestesiados, abaixam a
cabeça à destruição do habitat, enquanto malucos extremistas ameaçam matar pelo
clima, assassinar pelos animais, explodir bombas em nome da Terra.
A
humanidade está louca, fora de prumo, navegando à deriva, esperando que um dia
tudo se resolva para bem ou para mal, com a destruição do mundo ou a redenção
dos povos, o que criará um novo dilema: redenção física ou espiritual? Viver da
mesma forma, sujeitos aos pecados da carne ou uma experiência em plano
superior, sem necessidades físicas, em contato com algo maior, inseridos nas partículas do
universo, parte de um bem inacabável, próximos de Deus, esperando beber de sua
onisciência, encontrando a razão para toda a curiosidade que os instiga desde o
começo dos tempos: por que estamos aqui? Quem somos? Qual é o propósito da
vida?
Desligam
a TV e vão dormir, esperando um tempo melhor ao amanhecer.
Marcelo
Gomes Melo
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