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Os zumbis com bateria de longa duração



          Todo fim de ano gera inquietações. Não as inquietações comuns, a batalha do dia-a-dia, as dificuldades que exigem superação e força de vontade, às quais o auxílio divino é essencial, mas um outro tipo de ansiedade.
          Enquanto a instigação da mídia, e também a força das tradições aceleram as ações, a correria com os preparativos, presentes, locais apropriados para os festejos, viagens... internamente ocorre exatamente o contrário. O cérebro entra no modo câmera lenta e a conversa com o Criador muda de ritmo.
          Cada ser humano, muitas vezes sem perceber, começa a fazer um balanço da própria vida nos últimos onze meses. Põe em perspectiva as tristezas, as alegrias, os sonhos realizados e os ainda por realizar, tudo isso em um nível etéreo, sem inserir as culpas na equação.
          Ano após ano, com a extinção gradual das tradições natalinas, pode-se notar a quantidade de seres vazios, sem conteúdo intelectual ou moral, sem um filtro que os proteja, seja a religião ou a excelente educação recebida por parte da família, vagar pelos cantos apregoando uma felicidade falsa, baseada apenas em valores financeiros e bens materiais, prontos para as orgias, em contraste com os apáticos, descrentes, desconsolados, atingidos em cheio pela queda das regras nas quais acreditavam, e os que, ilusoriamente esmurram a ponta da faca tentando unir as famílias e celebrar à moda antiga, raramente obtendo êxito.



          Essas pessoas, as desconsoladas e as insistentes, fazem a mesma meditação a respeito da vida, enquanto as outras, além das tradições perderam o direito de raciocinar. Resta observá-los a descer a ladeira sorrindo, celebrando suas torpes realizações sem se tocar que a caminhada tem apenas um sentido: para baixo e para a escuridão. Inertes felizes, zumbis com bateria de longa duração, coadjuvantes de um mundo sem paz e sem remédio. Caos.
          O balanço da própria vida termina em nada; melancolia apenas. Mas é o que mantém um fio de esperança para o ano seguinte. Até que não haja mais nenhum outro ano.



Marcelo Gomes Melo

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