A chama na varanda
A
vela na varanda tremulava ao sabor do vento, interpolando a visão de quem
estava na sala, à janela e a rua escura, a não ser pelas luzes que as outras
residências emitiam. O mesmo acontecia com quem estivesse do lado de fora.
A
vela era um farol no mar, guiando os capitães em meio às tempestades na
madrugada. A chama errática dominava o olhar, total ou parcialmente de todos os
que a envolviam em seu campo de visão. Poucos a observavam com alguma atenção
especial, mas todos eram afetados por ela.
Ao
contrário da ignorância, que é muito gentil com os perdidamente apaixonados, a
chama instiga, ilude e determina. Dança conforme a brisa noturna a balança, uma
expert em dança do ventre hipnotizando com seus movimentos sensuais, com
diferentes ritmos e completo domínio sobre as emoções humanas.
O
registro digno de ser feito é exatamente a forma como as pequenas coisas
influenciam a enorme engrenagem do universo, causando mudanças imprevisíveis e
definitivas individualmente, mas constantes e mutáveis no coletivo.
Não
perceber essas modificações, tão velozes que parecem acontecer em câmera lenta
para o raciocínio humano é o que mantém a sanidade e a rotina que alimenta a
sequência da vida.
Marcelo Gomes Melo
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