Matar para comer II: esperteza
bizarra
...
Ela queria que eu matasse. Era o que lhe dava tesão, ver um homem capaz de
arriscar tudo e matar outro ser vivo apenas para ter o prazer de possuí-la.
Podia ser qualquer um, homem, mulher,
jovem, velho, contanto que fosse morto por mim em nome da vontade de saciar o
meu desejo animalesco por ela.
Eu que nunca matara nem a um frango,
quanto mais um ser humano! Ela, dando de ombros, beijou suavemente os meus
lábios gelados e determinou um prazo de sete dias a partir daquele beijo para
que eu aparecesse com um cadáver, ou nem precisava voltar, porque não ganharia
o manjar dos deuses no qual eu pensava diariamente, e ao qual homenageava
constantemente.
Fiquei observando enquanto ela se
afastava, sensual e indiferente. Instalou-se em mim uma loucura obsessiva, uma
tara inominável, uma obstinação atroz!
Maquinar um plano para matar alguém
passou a ser prioridade total; passei a viver em função de um assassinato.
Matar para comer! Matar para comer! Matar para comer!
Pensei do início, e a minha mente
parecia muito clara. Matar a quem? Uma pessoa conhecida? Talvez fosse mais
fácil, o meu primo era um chato e me devia dinheiro, o vagabundo... Era um
inútil, ninguém iria sentir falta.
Não, ele era chato, mas era jovem e
era parente. Minha ex-sogra! Quem sabe... Sogra não é gente, deus deve perdoar
a quem elimina sogras! Bom... Sogras eram mães de alguém, não era simples
assim.
Eu
vou matar aleatoriamente! Pego um trouxa em um parque qualquer e dou-lhe uma
bordoada na cabeça, esmago o crânio do desgraçado, mostro o cadáver para ela e
CRAU!
Gastei todos os dias criando um plano
perfeito, escolhendo a arma do crime, o local e o melhor horário para realizar
o assassinato... Chegou o dia marcado e eu estava na estaca zero. Será que por
causa de um simples crime eu não conseguiria comer o pastel da paixão?! Estava
quase odiando a mim mesmo.
O que fazer para comer a donzela dos
sonhos, mesmo que com as mãos sujas de sangue e a inocência divina rasgada para
sempre, sem retorno?
Marcelo Gomes Melo
SEGUE...
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