O amor no comando
Como
é que se declara amor? Ajoelhando-se no chão sujo com cara de pastel e um
sorriso amarelo, segurando na mão trêmula um anel?
Ou, quem sabe um caminho de pétalas de
rosas espalhadas pelo chão em direção a uma banheira com água morna, champagne
e duas taças ao lado...
Uvas! Uvas e sorvete de baunilha em um
motel, com músicas do Wando e frases sacanas como preliminares das
preliminares.
O amor deve se sentir envergonhado com
tantos clichês! Cantar em público uma canção da Celine Dion ou dançar as
músicas do Richard Clayderman, adornado com um lenço vermelho no pescoço!
Talvez desenhar corações, entregar
buquês de flores e caixas de bombons... Ah! Sem esquecer do bicho de pelúcia,
claro.
Ser moderno em uma praia de nudismo,
fumando maconha em torno da fogueira, recitando versos do Zeca Pagodinho. Ou
levar um quilo de peixe para fritar e dividir com as mãos lambuzadas de óleo na
mesinha de madeira da cozinha.
Será que essas são expressões reais de
amor? Os apaixonados repetem essas coisas nojentas geração após geração por
inspiração repetitiva, por orgulho de ser brega, por idiotice sincronizada ou
porque não se importam, qualquer coisa serve?
Viver
através de clichês é confortável para a sociedade como um todo, ao ponto de não
serem capazes de expressar amor de forma mais original?
Engano completo! O amor se expressa
tão naturalmente que nem se percebe! É o suor no rosto cansado do trabalhador
que sabe da importância de alimentar a família. São as dores compartilhadas em
silêncio, os olhares profundos de preocupação ou felicidade, os planos feitos e
refeitos entre risos e descontentamentos.
Não há receita. A repetição não
significa nada. A simbologia que contém os mais variados gestos, a intenção é o
que importa.
O amor costuma tomar as rédeas e se
declarar por si mesmo. Ele está no comando. Acostumem-se, primatas!
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