O
último dos retaliadores não sabia por que retaliava, apenas percorria as ruas
lamacentas com o chicote na mão e um revólver no cinto, bradando impropérios,
roxo de ódio contra o mundo; de vez em quando olhava no relógio quanto tempo
faltava para ir para casa, tirar a roupa de batalha e beber uma cerveja em paz
comemorando o alto número de vagabundos que retaliara em nome da luz.
Essa luz ainda era promessa até para
ele, que vivia na escuridão tanto quanto os seus pares a quem espancava e
oprimia sem dores na consciência.
Para ele não se tratava de iguais,
apenas semelhantes com atitudes diferentes, ditas rebeldes, e esses não
poderiam assumir qualquer comando que os possibilitasse instituir a desordem e
o caos. Desordeiros fanáticos que ofereciam as costas para usar a voz contra os
seus carrascos, alentando, procurando viver mais um dia.
Após o fim do repúdio à desorganização
social que feriram muitos, os mais novos sorriam para os clientes, tentando ser
amáveis com quem os desprezava e buscavam solicitar ajuda para controlar aquele
bando de tolos chamados, sem ter conhecimento, de baderneiros incorrigíveis,
traidores dos bons costumes e da ordem instituída.
Entretanto eles sangravam quando eram
atingidos. Gritavam e corriam, e ao sentirem-se encurralados reagiam até a
morte, causando danos ao patrimônio e aos inimigos que os desrespeitavam e diminuíam,
dia após dia.
Ambos sofriam. Iguais fisicamente,
iguais no temor a Deus, iguais no controle sofrido pelo povo. Sabiam que nem
faziam cócegas ao poder hegemônico e destreinados com uma vida tão longínqua.
Enquanto
as chamas alcançam arranha-céus e ilumina a noite na cidade assustada, o livro
seria a melhor ferramenta de alcance.
Quem poderia revigorar a esperança
agora, os pés cansados e as costas encurvadas do gado inocente, que caminha
cevado em direção do matadouro!
Ou a história se repetirá ciclo após
ciclo, sem piedade daqueles incapazes de concentrar um pensamento forte,
preparado para cortar os arreios e insinuar uma mudança oriental rumo às
certezas menos preparadas do universo?
Ninguém se preocupa com isso? O
instinto violento continuará a ditar as regras até que a raça se extinga a si
mesma sem deixar legado algum? No momento não é possível pensar, os chips de
batalha estão todos direcionados a um jogo que jamais acaba: o jogo da vida.
Marcelo Gomes Melo
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