A batalha dos derrotados
As
dores são cruéis em qualquer intensidade. Provocam no indivíduo completa
desconcentração, e nada parece importar, porque as dores dominam o ser humano e
transformam a sua vida em algo irreal, uma penitência invisível, muitas vezes.
Ninguém é capaz de mensurar a dor alheia, ou compreender mesmo que deseje.
Ajudar é inútil, e ficar tentando explica-la também.
As dores de amor são capazes de
enlouquecer e obrigar a vítima a atitudes mortais, agindo fora do convencional
em nome do inexplicável. Ferimentos físicos, mais fáceis de aceitar porque são
perceptíveis ao olhar alheio, causam danos em menor escala do que os
neurológicos, invisíveis, aleatórios, capazes de ser ignorados por todos à sua
volta, agredindo-lhe silenciosamente por não possibilitar explicação viável, visível,
plausível. Essas são dores que se alastram pela alma e transformam o indivíduo,
requerendo dele toda a coragem e resignação que tiver para não desistir no caminho
e cometer suicídio, aliviar a alma tão açoitada e ferida a ponto de não mais poder
seguir lutando.
As dificuldades se avolumam, os
sentidos se embaçam e as visões turvas tornam-se cada vez mais assombrosas.
Como apoiar o que não é digno de crédito?
O limbo passa a ser o local em que
esses seres habitam, puxados frequentemente de lá através de tratamentos que
lhes custam parte da sanidade e do gosto pelo livre arbítrio.
Como morrer pode ser a escolha menos
dolorosa? Como viver distante do que as pessoas esperam de você pode ser
agradável, porque os seres humanos julgam instintivamente e sem qualquer pudor?
Dilemas
como esses são comuns nesse século de mudanças tecnológicas, ideologias insanas
e comportamentos individualistas e separatistas, cada grupo com seus pavios
prontos a ser acesos para explodir a batalha dos derrotados.
Como a vida pode conter tantas
interrogações e tantos estímulos cuja solução é enganosa e sempre mortal?
Marcelo Gomes Melo
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