Todas as talagadas da rua Chaves
Era
bem na metade da rua, a localização exata, na calçada direita da rua Chaves.
Nos encontrávamos todas as tardes para matar o que estava nos consumindo, cada
qual com os próprios transtornos, com alegrias diferentes e pensamentos comuns
para serem trocados como figurinhas, no meio da calçada da rua Chaves.
Parecia combinado, mas não o era. Um
revezamento de humores acontecia, fazendo com que o equilíbrio funcionasse como
força para que quem estivesse pior pudesse superar. As talagadas ajudavam bem,
anestesiavam ou colocavam para cima, dependendo da situação, mas eram bebidas
igualmente.
Saíamos de lá um pouco mais eretos,
com a fé na humanidade restaurada. Ou cambaleantes, com a falsa felicidade no
sorriso fixo dos embebedados. Ou trôpegos, olhando para o chão, praguejando com
tudo em um idioma impossível de entender, mas uma postura totalmente compreensível.
Até que um dia as talagadas da rua
Chaves terminaram. O ambiente fechou, o dono se foi... A nostalgia tomou conta
dos primeiros frequentadores do meio da calçada da metade da rua Chaves.
Os meus companheiros desapareceram.
Hoje sou apenas eu, ninguém mais. No aguardo para reencontrar a todos para as
talagadas da Rua Chaves.
Marcelo Gomes Melo
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