Oportunidades perdidas pelo excesso
de bom-mocismo
Focou
no vale entre os seios e logo desviou o olhar, envergonhado. Ele em pé, ela
sentada, no transporte público. Decote generoso, três botões da blusa branca
abertos. Tratou de recordar todas as leis contra assédio sexual e situações envolvendo
advogados e supostos tarados a quem assistia nos jornais policiais do início da
noite na televisão, mas, desafortunadamente seus olhos adquiriram vida própria,
retornando ao local do início de seus tormentos.
Uma
olhada à sua volta, antes; as pessoas preocupadas com as próprias vidas, por
enquanto. Verde. Musgo, se perguntasse à dona. Sutiã verde musgo em um
vislumbre, indicando o caminho para os verdes campos de caça. O nirvana a
poucos centímetros. Gelou! O sangue de seu corpo dividiu-se; metade
concentrando-se em seu rosto, vermelho como o telefone do Comissário Gordon, e
metade na região pélvica. Moveu-se, desconfortável. Alface! Alface, rúcula,
salada de capim santo! Tentava limpar a mente do pecado, pensando em mato. Mas
mato lembra floresta, e os olhos deslizaram suavemente os contornos da garota. Teria
ela feito a combinação da mesma cor? Calcinha cor de musgo? Hoje em dia as
mulheres fazem as combinações de cores mais inusitadas! O pensamento o fez
tremer.
Pensou
numa tática para se acalmar. Pensar em livros, filmes. Os livros que lhe vieram
imediatamente ao cérebro foram Os sete minutos, de Irving Wallace, que relata
os pensamentos que passam pela cabeça de uma mulher durante os sete minutos de
uma relação sexual. E cinquenta tons de cinza, hit sado masoquista do momento.
Isso lhe causou novo estremecimento e arrepios pelo corpo. Os joelhos! Os olhos
chegaram aos joelhos à mostra, no final da saia preta. Macios, sem marcas,
belos joelhos, caminho único de retorno ao pecado. Boca seca. Tentou passar a
língua pelos próprios lábios, se imaginou parecendo uma cobra. Naja. Ahhhh!
Controle-se homem! Compêndios legais, filosofia extrassensorial da rabanada em
véspera de festas de fim de ano, vade mecum, memórias de um monge budista
eunuco... Memórias de uma gueixa! Abana a cabeça de um lado para o outro,
tentando espantar os maus pensamentos bons.
Filmes!
É preciso pensar em filmes de guerra. Toshiro Mifune em Tora! Tora! Tora! Não,
não é uma boa lembrança. Batatas da perna... Hummm! Melhor falar panturrilha,
ele pensa, suado; nada menos excitante do que o uso de termos médicos. Que
maravilha de canelas, protegidas por meias discretas, sensuais... Difíceis de
arrancar. Passa a mão pelos cabelos, nervosamente, deixando escapar um suspiro
dissimulado, chamando inadvertidamente a atenção da musa, que levanta os lindos
olhos para ele, por trás dos longos cílios.
Teve
certeza de que seu rosto parecia uma máscara de terror, contorcida pelo pavor
de ser acusado de qualquer tipo de assédio. Tentou conter a tremedeira.
Pigarreou sem som. Maravilha de mulher!
O
camarada sorri interiormente pelo fato de seu pensamento ousado. Ainda não liam
pensamentos, então não poderia ser preso. Conseguiu até dar uma relaxada, Nem
tudo era tão patrulhado no mundo, afinal.
A
moça se mexe no assento, inquieta, e ele esbugalha os olhos, trazido de volta à
realidade. Ela abre o zíper da bolsa em seu colo com uma elegância inigualável,
as mãos suaves de dedos longos, unhas coloridas como um arco-íris. Agora não
podia mais ignorar a ação e manter-se apático. Deixar de olhar, nunca;
disfarçar, jamais! Manteve os olhos esbugalhados, fixos na fenda escura que se
entreabria ante a sua expressão incrédula, de boca aberta. Viu sair de dentro,
entre os dedos bonitos dela, um objeto retangular, pequeno, de papel de boa
qualidade.
Ela
se ergueu, puxando a saia para baixo com naturalidade, ficando a centímetros
dele, olhos nos olhos. A ponto de sofrer um ataque cardíaco percebeu que ela
tinha um discreto sorriso naqueles lábios de perdição. Entregou o objeto a ele,
que demorou a se tocar que a oferenda era sua! Com a mão mais trêmula do que
alguém pelado no polo norte, recebeu. Era um cartão. Antes de se afastar, ela
sussurrou em seu ouvido com voz aveludada, quase lhe provocando uma convulsão: “Não
deixe de me ligar, querido”.
Ele
ficou lá, em pé, tremendo, com espasmos musculares pelo rosto, tiques nervosos
jamais antes sentidos. O impensável, improvável, impossível acontecera. Assim
que aquela delícia em forma de curvas desapareceu, tênue como num sonho, ele
tomou coragem de olhar o conteúdo do cartão. Um número de telefone celular; um
número fixo, comercial; o nome dela; o nome da empresa e sua profissão:
advogada.
Marcelo Gomes Melo
Passei e encontrei o seu blog, estive a ver e ler algumas coisas, não li muito, porque espero voltar mais algumas vezes, mas deu para ver a sua dedicação e sempre a prendemos ao ler blogs como o seu.
ResponderExcluirSe me der a honra de visitar e ler algumas coisas no Peregrino e servo ficarei radiante,e se desejar fazer parte de meus amigos virtuais, esteja à vontade, irei retribuir.
Mas por favor não se sinta coagido, siga apenas se desejar. deixo a benção de Deus.
António.
http://peregrinoeservoantoniobatalha.blogspot.pt/
A honra de sua visita é toda minha, António, agradeço a gentileza enorme e retribuirei sua visita com prazer.
ResponderExcluirBoa noite Marcelo.
ResponderExcluirSeu texto é envolvente e de final imprevisível, o que é ótimo.
Gostei de fato rsrs
Silmes, realmente me deixa feliz que tenha gostado. rs...Valeu!
ResponderExcluir