Padre. Madre.
Vamos,
irmã, empunhe a sua faca mais afiada e me siga com passos firmes. Entendo que o
seu olhar se alterne entre mim e o horizonte; as nuvens lá parecem escuras,
enquanto o meu coração permanece sereno, não é irmãzinha?
Ajeite os cordões dos seus sapatos, a
caminhada é atroz, cheia de empecilhos, e o cansaço é fatal. Usaremos de todos
os subterfúgios para escapar ilesos da
teia que envolve o mundo nesses tempos nocivos para quem não se curva a
senhores de lata.
Assim que um de nós tropeçar, irmã, a
mão do outro estará presente a fim de restaurar o deslize com palavras de
mármore embebidas em mel.
Muito à nossa frente há guerra, não se
assuste nem se surpreenda, muito menos lamente. Para lá caminhamos por um
motivo: entregar a nossa parte para contribuir com o fim dos conflitos atiçando
gasolina ao fogo.
Sim, não há opção a não ser recomeçar
do zero, após a destruição total do que ainda existe. Nós dois, irmã,
participaremos com justiça impiedosa e poder truculento. Calaremos as vozes e
apagaremos a história inútil com muito sangue derramado e sofrimento.
Eu conto com as suas coxas para me
manter aquecido nas geladas noites do deserto, vigiados pelas plêiades do firmamento,
testemunhas constantes da angústia que se esvai a cada momento de contato entre
nós.
O amanhecer é um espetáculo incrível,
quando apagamos a fogueira e reiniciamos a caminhada, os óculos escuros nos
protegendo dos raios solares que surgem de repente e logo se tornarão
inclementes, a mão apoiada firmemente ao cabo da espada; poucas palavras.
Palavra nenhuma, apenas o som do silêncio rompido pelas batidas dos nossos
corações ansiosos em baixo profundo.
O
fim se aproxima, garota. Seremos mais do que testemunhas; seremos os arautos do
reinício, os degoladores dos pecaminosos, os carimbadores da ausência de razão.
É o que nos cabe. Aceitamos, juntos, a incumbência.
Vez em quando cruzamos os olhares, mas
não há nada neles relacionados ao nosso papel profissional. Carinho e afeição
seriam adjetivos usados por uma pessoa sensível o suficiente, mas não há lugar
para pessoas assim no momento.
O grito da paz urge! Um sinal lúgubre
se apresenta e sacamos nossas adagas, partindo para dentro das nuvens negras
com determinação.
Os estrondos e os raios são
perfeitamente audíveis e visíveis, agora. Em nosso pensamento unificado
detectamos uma palavra que se repete no subconsciente de cada um: Fim. Início.
Marcelo Gomes Melo
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