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Anti-herói nacional, nordestino universal






“Lampião era o cavalo do tempo atrás da besta da vida”.




          A juventude brasileira não conhece o seu maior herói: um Robin Hood do sertão, Wolverine da caatinga, desbravador de povoados secos, esturricados como a cidade de São Paulo da atualidade. Ela conhece ícones norte-americanos como o Capitão América, militar que garante a soberania yankee com seu escudo e seus princípios, ou o sombrio Batman, que persegue e elimina o mal de uma cidade corrupta; fictícia nas páginas dos gibis, mas idêntica a certo país nesse exato momento. Para esse país, os heróis necessários são o povo e nada além dele; povo consciente da necessidade de justiça para o resgate da ética, moral e qualidade de vida. Mas essa é outra história.

           O papo hoje é a respeito do nosso herói nacional, uma lenda que atravessa as Eras incólume, enchendo o sertão de orgulho embora desconhecido do sudeste metropolitano, influenciado mais pelo que vem de fora do que pelas próprias raízes.

          Esse herói foi retratado pelo historiador Billy Jayner Chandler no livro “Lampião – O rei dos cangaceiros”, como um dos bandidos que despertaram o interesse e a fantasia do povo da área rural, como Robin Hood na Inglaterra e Pancho Villa no México.
          Lampião, rei do cangaço, fenômeno acontecido há quase dois séculos no Nordeste brasileiro, foi precedido pelo menos famoso Cabeleira, o primeiro cangaceiro conhecido em Pernambuco e eternizado na literatura pelo livro de Franklin Távora. Após Lampião, Corisco foi a última estrela do cangaço, morto em 1940.

          Caso o cinema brasileiro fosse prolífico e competente como o americano, cita o premiado quadrinista cearense Klévisson, criador de uma HQ  de qualidade indiscutível sobre Lampião e seus cangaceiros, teríamos tantos ou mais heróis brasileiros icônicos e reconhecidos pelos jovens do país.





          As façanhas de Lampião, ao contrário das de Robin Hood ou Batman foram reais, e o homem por trás da lenda causou imenso interesse popular, mesmo sem alcançar a dimensão que deveria de norte a sul, de leste a oeste.

          Lampião lutou contra “a volante”, ou seja, a polícia que perseguia a ele e seu bando, enquanto perambulava pela terra seca fazendo justiça com as próprias mãos, roubando dos coronéis para oferecer aos pobres, respeitando uma hierarquia feroz na qual defendia a patente de capitão e comandava os destinos do bando, fugindo e guerreando contra “os macacos” oficiais, alcunha dos soldados perseguidores, defensores da política nociva da época, que prejudicava aos necessitados (Isso há dois séculos! Lembra a você alguma situação atual?).
          O ano era 1938. Getúlio Vargas, sulista no poder do Estado Novo incita o progresso nas regiões mais desoladas, enfraquecendo o coronelismo e querendo também acabar com o lendário opositor ao poder dos coronéis, o capitão Virgulino Ferreira da Silva, o mito Lampião, idolatrado pelo povo, mas representante da falta de lei e ordem no interior do país. Esse cenário desencadeia uma campanha ferrenha para erradicar o banditismo sertanejo.

          Culturalmente, poesias cantadas por repentistas, precursores dos rappers americanos e literatura de cordel eram apresentadas nas feiras, difundindo os supostos feitos do capitão Virgulino contra a corrupção da volante e a crueldade dos coronéis.
          Já à época, a força feminina reprimida pelo machismo inclemente se fez presente, florindo através da forte figura de Maria Bonita, mulher de Lampião, capaz de empunhar armas e defender o marido nas piores situações; e Dadá, mulher de Corisco, o diabo louro, que demonstrava sua arte na produção de acessórios para o cangaço como bolsas e sandálias de couro.

          A lenda reza que o cangaço foi finalmente derrotado com o cerco feito pelos soldados ao grupo de Lampião,  em uma batalha sangrenta na qual pereceram como homens, combatendo até a última gota de sangue. Virgulino se eternizou carregando consigo “coragem, dinheiro e bala”; morreu, mas a lenda se criou e deve ser conhecida de norte a sul.





          A saga em quadrinhos criada por Klévisson, jovem talentoso nordestino, permite que a lenda e os fatos sejam conhecidos, assim como o estilo de vida, a moda sertaneja e suas peculiaridades ganhem vida e façam parte da moda do terceiro milênio. Roupas de couro, armas automáticas, lenços de seda e sandálias resistentes ao mandacaru são relíquias de um povo. Um povo 100% brasileiro, cujas raízes devem ser respeitadas e eternizadas.

          “O nome é Virgulino e o apelido é Lampião: espero e confio”.




Marcelo Gomes Melo



Lampião... Era o cavalo do tempo atrás da besta da vida – Klévisson – Editora Hedra – São Paulo/SP (1999).




2 comentários:

  1. Bom, primeiro quero me desculpar pela ausência, mas a vida complicou por aqui me deixando quase sem tempo pra nada.
    Aqui no sul o que sabemos sobre Lampião é que apesar de lutar contra os coronéis ele também destruía povoados com grande violência e seus homens não respeitavam nem mulheres nem crianças, inclusive sempre estupravam e marcavam seus rostos com facas ou ferro quente.
    Mas pode ser informação errada, sei lá.
    Vou dar uma pesquisada sobre o assunto agora que abordou de forma quase romântica.
    Beijão Marcelo.

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    Respostas
    1. As coisas funcionam assim mesmo, Silmes, acredite. Quanto a Lampião, lembre-se de que era um anti-herói, e a lenda o precede de acordo com quem conta a história. As vezes mau, às vezes bom, como todo mundo, enfim...

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