O
quanto a solidão ainda interfere com a vida das pessoas em pleno século XXI?
Com todos os aparatos da tecnologia auxiliando e incitando a interação entre as
pessoas através de todas as fronteiras, ainda há espaço para se morrer de
tristeza?
No
século passado, o jornal de Brasília Correio do Povo registrou uma série de
cartas que culminaram com a morte de uma pessoa, justamente por não ter suas
necessidades pessoais satisfeitas. O motivo: tristeza e solidão.
Hoje,
com redes sociais bombando e orgulhosos perfis expostos com milhões de “amigos”,
ainda há pessoas vitimadas por essa mesma doença, que parece transcender as
épocas e o acesso a multidões. Pode-se ser solitário mesmo entre centenas e
centenas de almas.
Correio
do Povo 27/09/73
Maria
Joana Silva, solteira, procura pessoa do sexo oposto para fim de casamento. O
interessado deve ser pessoa sensível, que goste de ouvir música, seja alegre,
goste de pescar, que seja carinhoso, que sussurre aos meus ouvidos que me ama,
que tenha bom humor, mas que também saiba chorar.
Não
se exige que seja rico, de boa aparência, que entenda Kafka ou saiba consertar
eletrodomésticos, mas exige-se principalmente que goste de oferecer flores de
vez em quando.
End.
Rua da Esperança, 43.
Correio
do Povo 02/10/73
Maria
Joana Silva, solteira, procura pessoa do sexo oposto para fim de casamento. O
interessado deverá ser pessoa sensível e que tenha o hábito de oferecer flores.
End. Rua da Esperança, 43.
Correio
do Povo 10/10/73
Maria
Joana Silva procura pessoa que a ame e goste de oferecer flores de vez em
quando.
End.
Rua da Esperança, 43.
Correio
do Povo 20/10/73
Maria
Joana Silva pede que qualquer pessoa goste dela e suplica que lhe mande flores.
Correio
do Povo 14/11/73
A
família da sempre lembrada Maria Joana Silva comunica o trágico desaparecimento
daquele ente querido e convida parentes e amigos para o ato de sepultamento.
Pede-se não enviar flores.
Marcelo Gomes Melo
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