A
barra da saia dela ondulava à brisa fresca da tarde, mostrando mais coxas do
que ela parecia querer; menos do que eu achava que deveria.
Os meus olhos, seguros por trás dos
óculos escuros a devoravam. Alguma coisa naquela expressão facial, no sorriso
fugidio me dizia que ela estava bastante consciente disso. De quando em quando
eu me indagava e havia mordido os lábios ou algo que denunciasse o meu
interesse.
Aproveitando o momento em que curvou a
cabeça em direção ao colo, onde descansava um livro, fixei meu consciente no
decote parco, o caminho para a perdição, embora pudesse mais imaginar do que
ver alguma coisa.
Ela olhava para o mar, tranquila e
deslumbrada, fim de tarde de bossa nova, o dourado envolvendo os prédios e a
praia, e eu olhava para as curvas deslumbrantes do seu corpo saudável e forte,
atraente pela própria natureza, o que crispava as minhas mãos junto às minhas
próprias coxas em uma excitação mal contida. Eu sentia que faltava ar para me
manter vivo em meio àquele amplo habitat!
Nossos olhos se cruzavam diversas
vezes, e ela acariciava os sedosos cabelos, afastando-os para o lado,
possibilitando a mim saborear aquele pescoço macio, parte daquela nuca aveludada...
O meu senso de civilidade desaparecia naqueles momentos. Caso tirasse os óculos
seria um mero lobo, puro instinto, desejando saltar sobre ela, voraz até o pôr-do-sol.
Entretanto, tarde após tarde ela se
levantava, ajeitava a saia com cuidado sensual, mexia nos cabelos e passava à
minha frente, ignorando a minha existência com tanta naturalidade que eu mesmo
acreditava que não existia!
Eu
tenho certeza de que ela achava que eu era cego.
Marcelo Gomes Melo
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