Quando
nos amávamos, eu não me importava com as mudanças de temperatura, com as coisas
que davam errado e nem com as coisas com as quais tinha de conviver, sem
poderes para mudar.
Simplesmente me levantava ao cair da
tarde, e no início do anoitecer estava com ela em seus aposentos, em que, até o
nascer do sol experimentávamos a construção de um universo paralelo no qual
nosso próprio mundo funcionava em perfeita sintonia. Então, após o restaurador
café da manhã voltava ao meu quarto para dormir algumas horas embalado pelas
lembranças suaves e agitadas como fogos de artifício em meio a tempestades
emocionais indescritíveis. Não há misericórdia no amor.
Após o sono dos anjos drenava a minha
energia para o trabalho, tentando não alterar a pulsação sempre que pensava
nela.
Realmente, durante esse hiato de tempo
em que estávamos física e espiritualmente desconectados, reconheço jamais ter
imaginado o que ela fazia com o seu tempo desligada do meu corpo, afastada dos
nossos pensamentos conjuntos.
Enquanto nos amávamos eu ignorava os
caminhos macabros, dispensava os desejos inúteis e deixava que uma luz maior
sobressaísse e tomasse hectares à volta, mergulhando a todos em comunhão
positiva, gerando felicidade serena incontável.
Eu estava contaminado por sentimentos
louváveis por causa dela. Enquanto nos amávamos, ela era minha e eu era dela.
O que eu descobri depois foi que as
atividades desenvolvidas por ela naqueles períodos sem mim eram indignamente
comuns! Normais, como tarefas de escritório, documentos e atitudes esperadas
para a manutenção de uma vida rotineira!
E
não havia, nesses termos, espaço para mim. Foi quando surgiram os espinhos
cortantes e a superficialidade entediante. Agora só quem amava era eu...
Marcelo Gomes Melo
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