Ele
não sabia quem morrera na entrada da cidade e que eram tão importantes para que
tivessem sido enterrados ali, bem ao lado da placa de recepção aos que entravam
no sagrado território de Paligran, terra serena e próspera do interior do país.
Três cruzes: uma maior, no centro, ladeada por duas outras menores, mas
igualmente tortas, feitas em madeira velha, com um prego apenas disposto na
junção das duas, construídas de maneira precária.
Era curioso. Como jornalista
andarilho, vivendo da venda de matérias freelance as quais contava dos locais
que visitava, já ativou os sentidos para descobrir tudo a respeito daqueles
mortos supostamente importantes, ali dispostos próximos ao outdoor que
anunciava “Paligran, a cidade assombrada do Oeste com a maior população viva!”.
Provavelmente fossem três dos
fundadores do lugar que ofertaram suas vidas para que o povoado crescesse
através dos tempos e hoje se tornasse quase que uma metrópole. Será que
encontraram um terreno dominado por fantasmas e assombrações malignas e tiveram
que expulsá-los em batalha sangrenta para conquistar o espaço e garantir que
famílias advindas de outros lugares prosperassem e se multiplicassem
geograficamente com qualidade de vida, sendo por isso imortalizados.
Por que nada de lápides suntuosas, com
destaque para os nomes de tão grandes heróis? Se realmente deram a vida na luta
contra os fantasmas, porque não foram transformados em fantasmas do bem e não
adquiriram o poder de pairar sobre o município, observando e defendendo a lei a
partir de seu novo habitat, o além?
Qual
era a forma de descobrir tudo sobre isso? Logo o jornalista soube que havia na
cidade um Centro de Pesquisas Históricas em que poderia saber com detalhes a
saga dos heróis fundadores da cidade assombrada. Sem esperar mais, adentrou o
recinto e procurou o diretor do local para desvendar o mistério e enviar logo a
matéria para o jornal, satisfazendo a sua sede por histórias incríveis e ainda
faturando um bom pagamento pelo trabalho.
Foi bem recebido, tomou um gostoso
cafezinho, empunhou o gravador do celular e um caderninho para anotações e
mandou de primeira a pergunta que fervilhava em seu cérebro de repórter:
- ... E quanto àquelas cruzes na
entrada da cidade? São túmulos sagrados dos fundadores maravilhosos desse
glorioso lugar?
O diretor o encarou sem entender de
pronto a pergunta, um tanto surpreso. Depois de processar a pergunta feita,
sorriu como se tivesse ouvido um grande absurdo, tomou um gole de café e
finalmente respondeu:
O
jornalista suspirou, guardou a caderneta e o celular, apertou a mão do diretor
cancelando a entrevista e saiu, desapontado.
Às
vezes era melhor inventar uma história, fruto da própria imaginação, a
descobrir que as coisas são mais sem graça do que uma boa ficção.
Marcelo Gomes Melo
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