Com as mãos dentro dos
bolsos, a cabeça abaixada, o queixo colado ao peito. Cidadão jovem, magrelo,
cabelos cortados rente, ombros encolhidos fazendo o pescoço sumir
indubitavelmente.
O estranho é que o que o fazia à beira da praia. No
calçadão ao lado do passeio das bicicletas, alheio aos barulhos das ondas
quebrando nas pedras molhadas, espumas brilhantes sob os raios solares,
irascíveis, atraindo a atenção dos banhistas sorridentes, enjaulados em suas
teorias comuns, satisfeitos com o que as cápsulas de felicidade lhes ofereciam.
Tanta gente aparentemente
saudável e feliz, demonstrando o resultado artificial das academias, todo o
investimento feito em status, todos filhos de deuses tatuados em seus corpos
munidos de borrachas que apagam todo o bom senso de seus cérebros toscos.
Ninguém parece notar o cabisbaixo, rubicundo como um
tomate, os olhos escuros como a tempestade que se anuncia suavemente no
horizonte, logo antes de surgir aterrorizante com seus relâmpagos, rugindo com seus
trovões como um pastor na Praça da Sé, que atira a Bíblia com força contra o
solo e, urrando desvairadamente prevê a chegada do juízo final, sem perceber
que está no meio dele há tempos, citando os mais agonizantes destinos aos que
corajosamente o escutam.
A grande maioria ignora, finge que não se importa e foge,
sorrindo ironicamente tentando provar que não o temem; muito menos ao futuro
aterrorizante atirado em seus rostos.
Os banhistas felizes, caso o notassem, franziriam as
testas, desconfortáveis; se encolheriam com asco, se afastariam de imediato.
Mas em quase sua totalidade preferem ignorar.
O homem, cabisbaixo, silencioso, continua o seu caminho,
imune a tudo e a todos. Não muda por eles; não vive por eles. Esse homem sabe
que carrega o peso do mundo em suas costas.
Este homem com certeza não está sozinho. Ao longo da vida podemos ver alguns como ele perambulando pela multidão. Espíritos sóbrios em meio aos que vivem em coma e narcose moral.
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