Metralhadora nas mãos de um macaco
Não
existe mudança de ano. Apenas uma interminável continuação de vidas, as quais,
lotadas de acontecimentos alternadamente bons e ruins, incitam o ser humano a buscar
pela impossível complementação de si mesmo.
É provável que esse estímulo nos faça
continuar vivendo enquanto for possível, indefinidamente acreditando em uma
impalpável evolução, sendo manipulados por nossos pares mais cínicos, que
inventam processos e cadeias mentais para manter a maioria de nós escravizada
para deleite de poucos.
Comemorar eventos específicos é
ilusão, porque nada de renova, a não ser no imaginário coletivo. E é isso o
quer nos mantém com vontade de viver. Sobreviver, na verdade.
A existência pode ser uma linha reta
infinita, ladeada por morros e vales, pirambeiras claras e escuras a seu tempo,
e somos nós que desviamos para todos os lados, a esmo, desorientados como em um
jogo de videogame automobilístico, quando perdemos o controle e arriscamos a
vida indiscriminadamente.
Quem escapa sorri assustado, pálido,
mas satisfeito por ter sobrevivido a mais um filme de terror; logo o medo se
dissipa e você parte para novas aventuras.
Não acontecem interrupções no tempo,
assim como não faz sentido contar a existência em idade, anos, meses, dias,
horas, minutos, segundos... Tudo é tão inconstante, sem necessidade!
Entretanto, talvez seja disso que o
ser humano é composto. Ilusões, falhas, enganos de proporções épicas que lhes
custem a imortalidade.
Não
há festas suficientes para burlar a alma. O corpo... Ah, o corpo. Transitório,
esse apanha, sofre e morre como instrumento mal utilizado pelos seus donos. Uma
metralhadora nas mãos de um macaco.
Marcelo Gomes Melo
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu feedback é uma honra!