O pátio dos corações perfeitos
No
pátio dos corações perfeitos não há lamentações. Ninguém sofre por amor, não há
dores oriundas de paixões passadas, presentes ou futuras.
Os corações são limpos, sem
cicatrizes, jamais foram banhados por lágrimas nem manchados pelo sono perdido,
esfumaçados por drogas lícitas ou ilícitas, muito menos angustiados pelo
desespero mudo e inacabável pela ausência de carinho. Não são corações surdos
pelos gritos horripilantes da rejeição.
Espalhados pelo pátio os corações
resplandecem maravilhosos, belos e atraentes. Despertam a mesma atenção que
carros seminovos em uma agência bem cuidada, instigando o desejo de todas as
vítimas da paixão.
Os de coração partido vivem fazendo
contas e economizando para quem sabe adquirir um desses no final do ano,
prometendo fazer mais para que durem, intactos, mais do que o coração que hoje
utilizam. Mas é óbvio que jamais conseguirão.
O pátio dos corações perfeitos não
possui vendedores nem seguranças. Não há cercas, paredes, alarmes são
desnecessários pois habitam o infinito. São criados para que os desejem.
Oferecem, apenas pela contemplação, uma calma incessante, uma leveza sensacional,
uma clareza d’alma absurda.... Causam melancolia em alguns, obsessão em outros,
promessa de princípios a diversos.
É permitido caminhar através do pátio.
Muitos não ousam e apenas o contornam, considerando a si mesmos não merecedores
de tal honra. O som dos corações pulsando forte, alto, saudáveis causa suspiros
e até lágrimas furtivas. Sem espalhafato, o mais barulhento dos seres
recolhe-se humildemente em silêncio respeitoso. O ar é mais puro, a natureza
sobrepuja quaisquer defeitos artificiais acrescentados pelos seres humanos.
Orações por parte dos menos eloquentes
parecem discursos essenciais, lamentando os tombos, exaltando a recuperação,
solicitando outra chance.
O pátio dos corações perfeitos não tem
o poder de exportar esses corações para substituir aos que estão partidos,
sofridos, maltratados... A razão é simples: esses corações pertencem aos que
ainda não existem como os conhecemos. O final deles será o mesmo.
Marcelo Gomes Melo
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