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Música para transgressão individual secreta



          Solidão à tarde. A mente vagando pelos verdes campos de caça. As cortinas fechadas na sala silenciosa propicia uma penumbra marcante, com as luzes difusas penetrando a mente cálida e disponível.
          Passos lentos em direção ao rádio; ligando-o a uma altura confortável, apenas para ouvidos particulares. O ar é inundado pela música suave, intensificando-se levemente em alguns momentos, parecendo um monitor cardíaco, instigando o início dos movimentos. Antes, urge uma readequação do espaço, para evitar acidentes que cortem a conexão limbo-etéreo-lácteo-rudimentar com a imensidão. Móveis afastados. Apenas o tapete em contato com os pés frios descalços, e a música, incensando os pensamentos e invadindo os poros, tomando conta das células, implantando a vontade de flutuar como se não houvesse gravidade.
          Os primeiros passos desajeitados. Os braços se erguendo, os dedos das mãos retesados se descontraindo, os olhos fechados. Os dedos apenas em contato com o tapete. A cintura dura se movendo como um barril no começo de um barranco... O som comandando o transe. Nada de medos, nada de inibições! Os braços esticados para os lados, prestes a levantar voo, os joelhos se dobrando e estalando em conjunção com a música. O rosto crispado, de olhos fechados e boca escancarada, estapeado pela canção que atingia e domava. Figura grotesca acelerando os movimentos, girando pela sala, o pescoço desviando-se como um egípcio... O quepe que protegia os cabelos atirado sobre o sofá no canto da sala, deixando as serpentes dos cabelos remexerem insanas.



          A dança incontida por anos desenvolve-se agora, como uma performance para milhões de almas sem nenhuma olhando! Livre das amarras impostas pelas normas de conduta social! O canto roufenho hipnotizando, conduzindo o cérebro a realizar manobras impensadas, nada de contas a pagar, nada de desculpas a pedir, nada de amores a relatar, muito menos cobranças a fazer submergir.
          Transgredindo as próprias emoções, mudando de figura e de postura, tornando-se outra pessoa pela própria escolha, girando, girando, vendo o mundo girar!
          A liberdade é remexer-se à beira de um abismo sem medo de cair? É atirar-se correnteza abaixo sem saber nadar, contando os segundos para o encontro com a queda d’água? A liberdade é correr o perigo de ter esquecido a porta aberta e a mãe chegar com as compras e dar de cara com aquele tipo sisudo dançando como se fosse filho da Gretchen?!
          A porta se abre. Mãe, pai, cachorro, irmã, papagaio, estupefatos acompanham o girar hediondo da liberdade em ação. A partir dali, quando se der conta da plateia, quando a música acabar... O fim do ritual se dará bruscamente e vida seguirá. Visto de forma diferente para todo o sempre. Vendo as coisas de maneira diferente pelo resto de sua vida patética.


Marcelo Gomes Melo

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