Talvez seja melhor não saber
Houve
um tempo em que, antes de subirmos no teleférico que nos levaria rumo às
estrelas, eu cortava um chiclete ao meio com o meu canivete e ela pegava a
metade, que trocaríamos no meio do caminho, quando a cadeirinha parasse, nos
balançando nas alturas em meio à uma floresta repleta de borboletas coloridas
jamais vistas em outro lugar, nos beijávamos longamente, sorrindo desnorteados,
o estômago gelado pela felicidade e pelo medo de altura, assim misturados, sem
pensar em mais nada.
Naquele tempo não existia problema. Os
corações delicados ainda não haviam sido mortalmente feridos pelos desgostos da
paixão. Tudo era amor. Sorrisos brotavam por qualquer coisa, e a sombra nos
descansava em vez de nos assombrar.
Foi um período único e eterno que
retorna à tona sempre que as tempestades se alongam e os relâmpagos nos
queimam. É a resistência pacífica do amor em comunhão com a natureza.
Sentados lado a lado tendo o mundo aos
nossos pés, de mãos dadas enxergávamos o horizonte se perder na luz dos nossos
olhos, ou o contrário. O retornar era por entre a floresta, no fim das tardes
de verão, comendo biscoito e bebendo vinho, tirando sarro de tudo e mantendo o
foco na felicidade, apenas.
Éramos insanamente desapegados das
coisas as quais os adultos se apegam. Vivíamos sob o signo da tranquilidade e
ingenuidade, coisas que não parecem existir mais hoje em dia. Sempre fomos o
oposto dos adolescentes atormentados e atordoados da atualidade. As gerações
sempre apresentam qualidades que parecem se perder para a geração seguinte, mas
não aparentam ser importantes para as gerações vigentes, são lamentadas apenas
pelos que viveram aquele momento, e que julgam ter em seu favor algo mais
precioso, enquanto os atuais viviam sempre em condições mais pobres e
deficitárias, como se a humanidade descesse uma escadaria sem fim, em que a
cada degrau para baixo encontra-se mais escuridão e mais luz artificial para
compensar as perdas naturais, disfarçando e enganando a percepção dos que
chegam, até que não haja mais luz e os que viverem na escuridão completa achem
normal, pois jamais conheceram a luz.
Épocas
diferentes, mundos diferentes? Pessoas diferentes, sim, sem dúvida!
Personalidades conflitantes com necessidades diferentes, atitudes paradoxais e
resultados incríveis. Em comum apenas os sonhos. Cada geração com os próprios
sonhos e desejos, objetivos ditados pelo que chamam destino ou pura sorte? Ou
azar. Como o labirinto do Minotauro, ou uma espiral sem fim, será possível a
alguém descobrir a lógica no viver? Um dia saberemos? Talvez seja melhor não
saber.
Marcelo Gomes Melo
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu feedback é uma honra!