Taturana entre as coxas!
-
Há uma taturana. Na sua coxa.
- O quê?!
- Uma taturana na coxa.
- Quer dizer que você está olhando
para as minhas pernas?!
- Não! Quer dizer... Para a saia.
Olhei para a sua saia; ou ausência de saia. Tentando decidir se era uma saia ou
uma toalha... De rosto.
- Está me acusando de estar seminua?!
- Eu?! Não! É claro que não. Eu até
gostaria que estivesse. Não, não é isso o que estou dizendo, eu só... Deus, o
que eu estou dizendo?!
- Isso pode até parecer assédio sexual...
Olhando as minhas pernas e falando do comprimento da minha saia!
- Eu estou tentando ajudar! A
taturana! Pode queimar, mova-se com cuidado.
- Está ficando maluco?! O que é
taturana? Eu nem sei o que é!
- Então olhe. Taturana é uma lagarta.
- O quê?!
- Taturana. É uma lagarta Passeando
pela sua coxa. Agora!
- Oh, meu Deus! E agora, o que eu
faço?! Não consigo nem olhar! Onde ela está, me diga!
-
Ah, agora quer que eu olhe? Tudo bem, tudo bem... Deslizando pela coxa.
Caminhando suavemente para a parte interna.
- Não estou sentindo nada. Tem certeza
de que é isso o que você está falando mesmo?
- Por que não olha?!
- Não tenho coragem.
- A sua pele parece ser aveludada. Sem
maldade. Não vai sentir... Ela está tentando se decidir por uma das coxas. A
taturana!
- O que eu faço? Separo as pernas?
- Claro, excelente ideia! Quer dizer,
entreabra com cuidado... Isso! Pronto. Ficou mesmo na coxa esquerda, lado de
dentro.
- Faça alguma coisa, por favor!
- Faço. Não! Vai me acusar de assédio?
Afinal somos dois estranhos sentados aqui...
- Não vou lhe acusar de nada! Me
ajuda, por favor, tire esse bicho daqui!
- Claro, com prazer. Quero dizer,
prazer em ajudar, não de...
- Entendi, entendi! Tira logo, por
favor!
- Ok. Vou arriscar a deixar que ela queime a minha mão. É um
processo doloroso...
- Eu não mereço esse sacrifício?! Seja
corajoso!
-Ah, em seu benefício eu devo ser
corajoso, não é? Caso contrário seria assédio!
-
Estou desesperada. Vai me ajudar ou não?
- Vou sim. Estou traçando uma estratégia.
- E que estratégia é essa?
- Vou atacar pelo outro lado,
suavemente. Pela outra coxa. Depois, logo que alcançar a taturana, entro em
ação e a afasto heroicamente de sua coxa.
- Isso está parecendo tentativa de se
aproveitar da situação.
- Está bem, vou embora. Fique com o
seu problema. A taturana é sua.
- Não, espere, não vá, por favor.
Aceito a sua tática.
- Hum...
- E a taturana não é minha!
Provavelmente seja sua! Quem garante que não foi você quem a colocou aqui?
- Na sua coxa?!
-Não, na minha parte do banco.
- Olhe em volta, estamos em um banco
do parque! Atrás de nós apenas natureza! À frente um lago maravilhoso. A
taturana faz parte da natureza.
- Anda logo, para de falar e me ajuda!
- Certo, certo, fique calma. Ora,
ora...
- O que foi?
- Nada. Eu estava certo. Coxas
aveludadas.
-
Mãos enormes!
- Sorte sua, é uma vantagem. Estou
mais perto da taturana.
- Aaaaaaai!
- Shhhhhh! Fica quieta!
- Ei, casal, estão autuados! Atentado
ao pudor!
- Quê? Seu guarda, não é nada disso o
que está pensando...
- Ele só estava pegando a taturana...
-... Sim, nós nem nos conhecemos
formalmente!
- Vamos, vamos; explicações na
delegacia. No meu tempo esse papo de taturana acabava em casamento. Vamos logo!
- Seu guarda, leve em consideração, por
favor...
-... Vão andando em silêncio, por
favor, casal.
- E a taturana?
- Tirei, fique calma... Ficou no
banco.
- Ufa! Por que está sussurrando?
- Porque você também está!
- Como é que vamos sair dessa?
- Eu tenho um plano, fica na sua...
Marcelo Gomes Melo
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