Como construir leitores capazes de
autoria? O papel da escola na produção de leitura e práticas de autoria
O
início do século XXI tem apresentado inovações tecnológicas e comportamentais,
mudanças sociais em todas as áreas e, consequentemente, no pensamento humano,
que passou a ter que lidar com a velocidade com que as coisas acontecem e como
o conhecimento tem sido disseminado, tornando necessário repensar a forma com
que a escola deve atuar para a construção de leitores capazes de autoria,
interagindo com as múltiplas possibilidades naturalmente e adequando-se de
maneira a contribuir eficientemente enquanto autores.
De acordo com a argumentação de
Foucault (1970), um nome de autor é determinante para a circulação social da
obra como singular e única, assegurando uma função classificatória e afetando
as práticas do discurso; isso quer dizer que vai além de apenas um elemento em
um discurso e permite reagrupar, delimitar, excluir, opor textos uns aos
outros.
Já para Orlandi (1988) é a
função-autor que garante a constituição de um texto como unidade, visto que
organiza enunciados dispersos e impede que sejam apenas um monte de enunciados
misturados e sem nexo aparente. Produzir um texto, então, torna necessário ao
indivíduo ocupar a função-autor, organizando suas práticas em relação aos
gêneros do discurso estabilizados e referendados cotidianamente. As
funções-autor são diversas, visto que dependem das práticas de escrita adotadas
levando em consideração para quem se está escrevendo, originalidade,
criatividade, responsabilidade, intencionalidade e efeito de individualização,
sem os quais configurariam plágio, em que o indivíduo não estaria apresentando
seu texto de modo singular, único.
A escola apresenta todos os chamados
gestos de leitura, legitimando-os através de sua didática, sem, no entanto,
expor o leitor a situações polêmicas diversificadas, que o faça tomar contato
com produções realizadas em diferentes condições e formar novos efeitos-leitor,
quando deveria propiciar-lhe a chance de aprender a ocupar a função-autor de
maneira adequada, para exercer tal autoria no que concerne aos gêneros
discursivos.
O efeito-leitor que se constrói de
acordo com as condições de produção da prática de leitura, em que um leitor
real se relaciona com um leitor ideal, imaginado pela função-autor para
realizar sua interpretação pertinente, colaboraria para a construção de
leitores autônomos, capazes de autoria, e tem se constituído em um grande
desafio aos profissionais do ensino que buscam ampliar o acesso dos alunos a
materiais diversificados e uma decodificação baseada em conceitos adquiridos
com eficiência. Para que aconteça, a tecnologia é um instrumento poderoso para
a disseminação de conteúdo multissemiótico, democrático e de qualidade.
A escola precisa assumir o papel de
ambiente principal para as produções de autoria, oferecendo projetos que
viabilizem o entendimento e explorando o posicionamento confortável dos alunos
perante a tecnologia. Atividades de reescrita partindo de relatos orais
descritivos e narrativos, nas quais o aluno precisa ressignificar o conteúdo
apreendido para repassá-lo de acordo com a sua visão particular, utilizando
vocabulário pessoal embora preocupe-se com a citação e acresça, caso
necessário, paratextos, notas de rodapé, comentários de sua própria feitura,
concluindo com a distribuição de seu texto para outros grupos de alunos,
incitando a discussão, debate e possível produção de novos textos com novas
ideias podem ser bastante palatáveis, pois oferece inclusive outras vantagens,
como o enriquecimento do vocabulário próprio.
Projetos de leitura que incluam uma
ampla diversidade de textos que possibilitem democraticamente discutir questões
de todos os ângulos e transformem a argumentação em produções individuais e
coletivas são igualmente competentes na formação de novos leitores-autores.
Marcelo Gomes Melo
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