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Chimpanzé on crack

 

 

 

- Minha nossa, o que aconteceu?!

- Nada... Me ofereceram cem pratas para sair no tapa com um chimpanzé.

- O quê?! Como algo absurdo assim poderia acontecer?!

- Aconteceu. Era isso ou trinta balas no corpo... Não estou pronto para encontrar Jesus.

- Sair no tapa com um chimpanzé?!

- Fizeram o chimpanzé fumar muito crack. Deram uns choques nele. Ficou furioso, enlouquecido.

- Onde aconteceu isso, pelo amor de Deus!

- Em um container, lugar incerto e não sabido. Só os ricos apostando, assistindo através de câmeras infravermelho. Dentro do container só eu e ele. Estava escuro. Uma luz fraca piscava de vez em quando. O chimpanzé era mais veloz do que o Barrichelo, e brigava como um herói vingador. Estava formado para o ódio, pulava do teto para as paredes, guinchando como um cobrador de dívidas funcionário de agiota. Deu o primeiro golpe no meu olho, com a mão comprida.

- Entrou desarmado?!

- Deram o direito a escolher uma arma apenas.

- Você escolheu?

- Claro. Um par de luvas de couro.

- Quê?!

- Eu preciso das mãos para trabalhar, é necessário protegê-las. O chimpanzé portava uma foice.

- Minha nossa!

- Ele batia aleatoriamente com a foice, tirando faíscas das paredes. Quando me acertou outra porrada de mão aberta, prendi a respiração e soltei-lhe a pancada no cotovelo, tentando tirar a força do bicho. Em seguida soquei o corpo, como pude, com o máximo de força. Ele me mordeu, arrancou um naco de carne do ombro. Acertei uma cabeçada na cara dele, dura como ferro. Ele me batia a esmo.

- Como escapou vivo?

- Tracei uma estratégia. Não apagar enquanto era detonado, soca violentamente de volta, até pegar a foice.

- Como escapou vivo? Pegou a foice? Quanto tempo durou essa carnificina?

- Umas duas horas. Coisa feia.

- Conseguiu pegar a foice?

- Não, mas açoitei o pescoço até ele tropeçar. Caiu sobre a foice. Esmaguei as costas dele com botinadas. Chutei até que os guinchos pararam. Abriram o contêiner, após minutos de silêncio que se seguiram. Pra mim foram anos. Eu estava lá, ensanguentado. Em petição de miséria. Vivo. Cem pratas garantidas.

- E o chimpanzé?

- Pelo que sei está em coma. Pagaram o hospital, além das cem pratas.

- Vão salvar o chimpanzé também?

- Claro, ele faz parte do show.

- Que loucura é essa? Quem faz essas coisas hediondas?

- Se eu lhe contar você terá que enfrentar o crocodilo... Arruma um conhaque. Uma garrafa.



 



 

        Trecho do livro “Espancador: como ganhar um bilhão de dólares usando a força do pensamento”, disponível em breve.

 

                         Marcelo Gomes Melo

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