Você
é um muro contra o qual não desejo colidir; uma nuvem cinza que eu não quero
sobre mim, um para-raios que me atrai e me atira na terra, impassível como uma
estátua, sem se importar com a intensidade que eu demonstro.
Você
é uma calda de derreteria o meu sorvete preferido, e ainda assim permaneceria
mais gostosa e suculenta, um impulso para eu saborear sem temor.
A
mulher de gelo que queima o meu coração e destrói as minhas ondas cerebrais sem
piscar por um segundo. O seu propósito vai muito além de um amor. Qualquer
amor. Tem coisas mais importantes em que pensar, conquistas materiais pelas
quais está disposta a negociar, não importa a quem vai ferir, você não tem
amores, tem objetos pessoais com os quais se distrai. Às vezes tropeça à beira
do abismo, as lágrimas lhe assustam e lhe fazem sentir raiva de si mesma por
dias e dias, mas renasce das cinzas e prossegue, de queixo erguido; venceu a
fraqueza a qual deixou lhe atingir, de raspão.
Não
permite sair em tentação por mais do que o tempo programado, logo retorna ao
jogo ainda mais voraz e impiedosa.
Você
é caçadora do tipo que se compraz em fazer a presa sangrar entre os dentes,
arrancando os pedaços, degustando o que serve e cuspindo as sobras para os
porcos, sem dor de consciência. Especializada em encantar, aterrorizar,
destruir; é o lema em sua bandeira. O veneno suave que mata lentamente e o
perfume permanece na sepultura por anos a fio.
Um
rastro de miséria e ódio banhados por aguarrás e pétalas, você continua e
sequer desvia os olhos. Não tem interesse pelo que lhe cerca, e obstáculos que
porventura encontre talvez lhe mantenha o interesse pelo tempo que leve para
quebrar em pedaços como a tudo que lhe atraia, como uma criança que tem por
prazer esmagar os brinquedos.
É
tudo o que lhe faz sorrir. Ver a ingenuidade tosca dos que acham que podem
lidar com você, e depois enxerga-los pelo retrovisor, sangrando lentamente até
a morte mais desesperadora possível: a morte do apostador que deixou tudo se
distanciar, até os sonhos.
Ninguém
vive com juízo completo, entretanto. É isso o que lhe impele obsessivamente a
uma vida de riscos. Todo mundo enlouquece ao meio dia ou à meia noite. É o que
define a existência.
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