Não
importa acordar de ressaca, vomitando as tripas e a cabeça a rodar. O chão
parece um furacão, entontecido e com gosto amargo na boca, se escondendo atrás
de uma caneca de chá. Chá de boldo para tentar consertar. Chá de camomila para
regenerar, dois comprimidos de aspirina, um café quente, forte, sem açúcar, deixar-se
cair no sofá.
Olhos
vermelhos, sem lembrar direito das marcas de cachaça e cerveja que não parou de
tomar. Um copo atrás do outro, uma garrafa na sequência embaçando o olhar. O
mundo rodando e você se mijando por não encontrar o zíper antes de se aliviar.
Você
precisa de recuperação, descansar, meditar. Porque daqui a dois dias haverá
outro encontro com o seu melhor amigo, e não pode faltar: o bar!
É
ele quem lhe acolhe do frio, lhe oferece estadia e bebida suficiente se quiser
se matar. Não haveria amigo mais fiel e contente por poder ajudar. O seu melhor
amigo sempre será o bar!
Acaba
o expediente, nervoso e descrente, precisando de autoestima e um pouco de
alegria só para variar, como um imã ele traz você com tudo para beber e
esquecer, para beber e lembrar. Esse é o seu velho amigo, o bar.
No
meio das enrascadas da vida, inanimado, firme e forte ele sempre está lá, com
luzes neon na porta e muita gente solitária ou vazia por dentro, não atingem
cem por cento embora queiram ostentar. Ali uns tentam sobrepujar aos outros em
histórias inverídicas de como são felizes, realizados profissionalmente e
abençoados no amor, mas o castelo de cartas desmorona quando a primeira garrafa
de uísque termina e outra tem que chegar.
A
choradeira, a raiva, o sentimento de inferioridade, a falta de razão para
existir vem à tona até você vomitar. Embaraçado, sem as faculdades mentais em
ordem, prontos para desabar, a ajuda confusa oferecida por outros bêbados não
vai ajudar. A sarjeta lhe espera, ou o chão do banheiro onde irá apagar.
Tudo
isso acontece com ajuda do seu indestrutível amigo sempre lá para aprovar: o
bar! Você deve tudo a ele, e a ele deve pagar. É nele que o seu espírito irá
permanecer assim que a sua hora chegar. Parceiros de bebedeira que ainda não
foram chamados sufocam as lágrimas com o bafo de cachaça balbuciam o seu pesar
com a tristeza genuína de quem sabe que o seu dia ainda vai chegar.
No
templo dos cachaceiros, reunidos irão beber o amigo morto, relembrar histórias
até que o dia amanheça e os encontre na sarjeta, bancos de praça, fachadas de
lojas, esperando a abertura do amigo mais profundo, sincero, que não julga
apenas oferece as ferramentas para que usem como desejarem, e o encontrem no
inferno quando o dia chegar. Todos amigos chegados, juramentados e fiéis ao
local mais respeitoso que puderam frequentar: o bar!
Marcelo
Gomes Melo
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