A ocupação
A
ocupação começou há anos, tanto que nem lembro ao certo como aconteceu, o que
provocou e como se deu. Foi um redemoinho de emoções inexplicáveis de ações
inconclusivas gerando frustrações absurdamente inquietantes.
Uma ocupação assim, silenciosa é ainda
mais surpreendente, invasão alien dos filmes de ficção, porque invade sem
estardalhaço, e quando se percebe já era, irmão. Perdeu, playboy!
Aí é uma sequência de olhares
furtivos, de mão roçando-se descuidadas, troca de palavras provocativas,
sorrisos nervosos... E uma vontade torturante crescendo, dominando, instigando
e fazendo ofegar. Transformando quase toda a razão em instinto puro.
E quando se olha em torno tudo o que
você vê faz referência ao desejo, à necessidade e ao prazer.
Nesse momento alucinante imagine que a
corrente se quebre. A distância se torne dolorosa e tudo o que transcorria para
uma memorável conclusão amorosa imensurável se modifique sem acordo, apenas a
sequência natural das coisas em um mundo ferino, cruel, insensível.
Mesmo essa distância, entretanto, não
apaga sentimentos nem desejos, apenas os conserva em fogo baixo, sem queimar,
mas, mantendo brutalmente aquecido, provocando visões espantosas de amor pleno
e satisfação gigantesca que faz deitar sobre nuvens e observar o universo do
lado de fora.
Finalmente, inesperadamente, um
reencontro. Tranquilo, feito com atitudes superficiais, a cordialidade
escondendo a selvageria de se apertar, amassar e misturar totalmente, com um “dane-se
o mundo” engatilhado para tudo o que não disser respeito aos dois.
Duas
almas eletrificadas pelo desejo milenar, sorrindo quase friamente, usando
palavras sem sabor, recriminando-se internamente porque não é o que queriam, é
apenas o que o politicamente correto exige.
A ocupação, meus senhores, ocorreu há
tempos! Não há mais o que conquistar, já está tudo dominado. Em uma hora ou
outra essa bomba relógio vai explodir e o tesão se concretizará, pleno,
arrogante, atropelando como um trator os anos passados de vontade contida.
Isso é o mais próximo da felicidade?
Não, não o é. Haverá longas conversas tentando entender, entremeadas por
momentos de carinho, por horas de prazer, por dúvidas incontáveis e até
desentendimentos prováveis.
A busca da felicidade completa é
eterna. É a felicidade em si, difícil descobrir algo assim. Tempero.
Marcelo Gomes Melo
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu feedback é uma honra!