A escola que temos e a
escola que queremos
“Às vezes, por prazer, os homens de equipagem
Pegam um albatroz, enorme ave marinha,
Que segue, companheiro indolente de viagem,
O navio que sobre os abismos caminha.
Pegam um albatroz, enorme ave marinha,
Que segue, companheiro indolente de viagem,
O navio que sobre os abismos caminha.
Mal o põem no convés por sobre as pranchas rasas,
Esse senhor do azul, sem jeito e envergonhado,
Deixa doridamente as grandes e alvas asas
Como remos cair e arrastar-se a seu lado.
Esse senhor do azul, sem jeito e envergonhado,
Deixa doridamente as grandes e alvas asas
Como remos cair e arrastar-se a seu lado.
Que sem graça é o viajor alado sem seu nimbo!
Ave tão bela, como está cômica e feia!
Um o irrita chegando ao seu bico um cachimbo,
Outro se põe a imitar o enfermo que coxeia!
Ave tão bela, como está cômica e feia!
Um o irrita chegando ao seu bico um cachimbo,
Outro se põe a imitar o enfermo que coxeia!
O Poeta é semelhante ao príncipe da altura
Que busca a tempestade e ri da flecha no ar;
Exilado no chão, em meio à corja impura,
As asas de gigante impedem-no de andar.”
Que busca a tempestade e ri da flecha no ar;
Exilado no chão, em meio à corja impura,
As asas de gigante impedem-no de andar.”
O Albatroz
(Charles Baudelaire, Flores do mal)
Já dizia o velho e bom poeta francês
Baudelaire, como citado acima em “O Albatroz”: em meio à corja impura, exilado
de seus dotes e dons, até o mais preparado dos príncipes se vê impedido de
evoluir.
É claro que ele se referia aos defeitos
imperceptíveis da ave, admirada à distância por sua destreza fenomenal pelos
céus azuis e entre as nuvens de algodão; defeitos que o impediam de se destacar
fora de seu habitat natural que o ajudava a chegar ainda mais longe, parecendo
mais eficiente e mais belo. Transportando a ideia para os dias atuais, façamos
uma analogia tomando por base a juventude em pleno desenvolvimento intelectual.
Como fazê-los evoluir e desenvolver o talento pessoal, que é único em cada um,
sem reconhecer neles qualquer talento?
E como proceder para reconhecer
qualquer talento numa situação de extrema rebeldia, em que jovens com talentos
perceptíveis, e a maioria nem tanto, se misturam e convivem num ambiente no
qual se destaca sempre o pior de cada um, como se estivessem alheios ao seu
habitat, sendo repudiados pelas atitudes bizarras e taxados como incompetentes
por natureza, entre tantos outros adjetivos pouco lisonjeiros?
Talvez seja necessário um pouco de
tolerância para perceber neles alguma fagulha de talento, algum sentimento bom
que seja usado para transformá-los; algo que se multiplique e consiga
sobrepujar todos os problemas que carregam consigo desde o início das vidas,
herdadas dos parentes e do ambiente em que vivem. Talvez.
Quem sabe respeitando o parco, mas
importante conhecimento de mundo que trazem com eles? Parco por causa do curto
tempo de vida. É esse conhecimento que lhes serve de base para equilibrar suas
mentes ainda dominadas pelos instintos básicos, mentes abertas para o que é bom
e para o que é ruim, indiscriminadamente, mas que, como imãs, seguem o rumo
mais fácil por estarem à vista, seduzindo através de imagens e sons, e tudo à
volta deles. Seu modo de falar, de ler, de se comunicar é tudo o que eles
possuem! Para que virem albatrozes no ar é preciso que descubram seus próprios
talentos e decolem; mas isso é extremamente complicado sem a orientação, sem a
ajuda de profissionais da educação comprometidos e competentes, dispostos a
realizar essa etapa na vida deles.
E para que seja possível que os jovens
recebam tal ajuda, esses profissionais da educação necessitam que sua
autoridade seja restaurada! Que a confiança em seus serviços seja plena e que
haja uma hierarquia definida e clara, algo que sempre houve em tempos idos e
hoje não mais existe, fruto das políticas idiotizantes sugerindo atitudes
ridículas para chamar a atenção e motivar a juventude, como se estudar,
adquirir cultura e construir o próprio caráter para contribuir socialmente
durante o restante da vida precisasse de motivação!
Unir métodos novos, mídias diversas
para incentivar e tornar o acesso a mais conhecimento, devidamente filtrado é
essencial, desde que no mesmo pacote esteja noção de hierarquia, capacidade de
reconhecer e respeitar aos profissionais e às pessoas mais velhas da mesma
forma que a si mesmos, isso não perde a validade nunca.
Sem a noção da importância intrínseca
da educação e de seus profissionais para o restante de suas vidas, algo que
anda nebuloso dada a tendência de misturar educação a política partidária, e até
desmerecer a real importância do ensino, estaremos produzindo apenas lutadores.
Lutadores na arena da morte nos estádios de futebol, alheios a todo o benefício
que estão à sua disposição, gratuitamente. O paradoxal é que, quando as pessoas
se interessavam em educar-se, o acesso era mínimo e restrito.
Poetas são como albatrozes, já dizia
Baudelaire. Jovens e educadores, também.
Marcelo
Gomes Melo
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu feedback é uma honra!