As coisas que externamos e as que não
As coisas que não falamos são piores do que as coisas que externamos, porque pensamos as coisas mais absurdas, entretanto prováveis de acontecer nas mentes mais nebulosas, prontas para receber resquícios de tudo quanto é sofrimento. Guardar envenena, inicia uma batalha silenciosa que magoa mais do que tudo, causando uma mistura das sensações de perda que vai ladeira abaixo, como um trem descarrilado que velozmente atropela todo o discernimento. A paixão embebeda e enlouquece, tira do prumo e mexe com as reações químicas corporais, transformando-as em puro desespero e fuga. Tudo o que se quer é morrer menos em um relacionamento como esse, voltar à tona e respirar o que or possível antes de ser novamente impelido às profundezas da tristeza e solidão.
Os movimentos dos amantes não têm nada de deliberado, racionalmente preparados, embora assim o acreditem. A verdade é que tudo acontece aleatoriamente, e os apaixonados são meros passageiros na nave emocional que os arrasta à velocidades extremas, oferecendo diferentes sentimentos, esgotando cada um mental e fisicamente, exigindo tudo e algo mais, sem possibilidade de negociação.
Viver a escravidão de um amor, ou da falta dele é o mais cruel acontecimento de uma vida humana; e o mais compensador, por paradoxal que se apresente.
Marcelo Gomes Melo
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