A última cartada foi a das flores, rosas vermelhas simbolizando o amor lascivo, o tesão destemperado, o desejo imparável que descia a colina como um trem desgovernado querendo se alastrar como borboletas coloridas sobre os campos e os rios, entre as árvores das montanhas, perfumando com cheiro de terra molhada, criando o clima através das metáforas para uma noite de amor inesquecível, seguida de outras e outras romanticamente, ao som de canções românticas que embalariam o relacionamento enquanto durasse.
Ele era um homem antigo. Não fazia ideia do quão pareceria desrespeitoso entregar flores a uma garota moderna, chegando arrumadinho, perfumado e com gel nos cabelos para impressionar ainda mais!
Mantivera o traquejo dos velhos tempos, e agora se tornaria vítima do próprio romantismo. Ela não aceitaria as flores e o acusaria de machismo contumaz por querer compra-la com rosas vermelhas, símbolo do domínio masculino através dos tempos; recusaria o jantar à luz de velas porque não era um mero objeto a ser conquistado com alimentos e bebidas, que em breve seria requisitada a pagar com uma noite de paixão em que ele ainda se ofereceria para pagar as despesas, incluindo o motel.
Ele ficaria assustado com a ferocidade demonstrada por ela, ameaçando processá-lo por assédio sexual e conduta repressora, considerando-a uma mera fêmea sem o poder de tomar as próprias decisões, humilhando-a com excesso de cuidados torpes que serviriam apenas a um intuito, que era esbaldar-se em seu corpo em busca de prazer unilateral, sem se importar com os desejos e objetivos de uma mulher empoderada que sabe exatamente o que quer.
Nada de presentes fúteis como correntes de ouro, pulseiras coloridas ou anéis de compromisso, falsos na intenção até onde podiam ser, mentirosos porque representavam apenas um investimento imediato na sede de possuir o seu corpo esquecendo a sua alma cruelmente, os seus anseios políticos e sociais, a sua ascensão à glória feminina moderna que era ocupar cargos de alto escalão, viver estressada com a rotina diária que não incluíam mais deveres de casa, cozinha, lavar roupa, passar roupa, enfim, ser a rainha do lar.
Não importava se as intenções do pré-histórico fosse pedi-la formalmente em casamento, prometer uma casinha branca com jardim e uma cerca de madeira aconchegante; que desejasse ter filhos e ensiná-los a amar e conviver socialmente, sendo preparados para virarem adultos coerentes, louváveis, honrosos.
É, ele era abobado e sairia dali descrente da vida, descobrindo o quanto era medieval e ultrapassado, um homem repulsivo que nenhuma mulher aprovaria hoje em dia, com os seus defeitos de parecer homem, falar como homem e amar como homem. Era mais um dinossauro abatido na grande roda da vida, no novo ambiente de caça que opunha gêneros diferentes em nome de uma redenção desconhecida. Recolher-se à caverna mais próxima para morrer em torno de uma fogueira parecia ser a única opção.
Marcelo Gomes Melo
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