É uma ilha isolada no meio do nada, sem habitantes, sem condições urbanas básicas de sobrevivência. O que se vê de todos os cantos é água, sem um horizonte no qual se fixar e manter um norte que equilibre o senso e mantenha a sanidade.
Embrenhando-se na mata densa, experimenta-se ansiedade, medo do desconhecido e da escuridão, mas a atração é maior, e caminhar com o máximo de cuidado, protegendo o corpo com armas primitivas e o cérebro com pura fé.
Os percalços não surgem abertamente, eles se tornam físicos de uma hora para outra, embora possam ser detidos com pensamento rápido e um pouco de coragem. Já aqueles que se introduzem no cérebro, permanecem como sombras, bem maiores do que o são, esses procuram dominar a existência, definir quem você é mesmo que não o queira, e lhe incutir a febre de desbravar a mata intransponível que lhe tira o sono, dificulta os seus movimentos e deseja lhe ver definhar, com fome, sede e frio, ameaças intensas que lhe fazem gritar no escuro, bradar por socorro, implorar por salvação, as forças lhe abandonando para que a inércia assuma o posto e o faça desistir, encolhido como uma criança em posição fetal, desejando manter os olhos fechados para não se deparar com a ameaça maior.
Só aí, de lugar nenhum, um raio precioso de sol rompe a barreira das árvores milenares e lhe encontram, como acordar de um sonho ruim você quer café quente e um propósito para lutar. O raio de sol é o mesmo ideal para lhe fazer acreditar, levantar-se vacilante e aproximar-se do lago gelado para beber, das frutas silvestres para matar a fome, da trilha que antes não havia, para buscar uma saída.
Agora você está diferente, encorpando, torcendo as mãos e guiando-se pela fresta de sol. Com passos mais firmes chega a demonstrar o rastro de um sorriso, quando desvia de espinhos e salta as plantas carnívoras, aprende a conduzir-se em ambiente hostil, decora o que é venenoso, o que pode lhe auxiliar ou lutar contra você, quem irá lhe trair ou lhe ajudar a superar e viver mais ainda para se vingar, amadurecer, aprender as sutilezas da vida em si.
A sua sobrevivência depende disso, um dia de cada vez, as conquistas reconhecidas, as derrotas afastadas para um novo confronto em breve.
Estamos falando de como funciona o seu cérebro, no dia-a-dia; de como as engrenagens produzem as cenas que formam a sua existência. São cíclicas, um dia por baixo, outro dia por cima, caso sobreviva. A luta real é contra si mesmo, brigar pela vida do jeito que acha que deve ser, enquanto a suporta como é de verdade.
É o que há em seu cérebro, em seu corpo. E a sua alma age como mediadora. Quando ela vence, você vence. Caso contrário são mais almas perdidas e corpos abandonados.
Marcelo Gomes Melo
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