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Um mundo morto em funcionamento


O ano é 3.057, pandemias surgem como chuchu cresce à beira de cercas. A geografia do mundo mudou bastante, e suas configurações redefiniram poderes, clima, leis e tipos de sociedades. Tribos criam dialetos de um idioma central, e por menores que sejam o utilizam, confundindo pequenas regiões em vez de países.

A liderança central é formada por doze líderes universais, com uma única coisa em comum: poder financeiro e força destruidora. A função de cada um é manter um equilíbrio que impeça que apenas um domine por completo, ou grupos menores. Há uma constante guerra tática nos bastidores, desconhecidas pela maioria dos seres viventes, agora todos desprovidos de livre-arbítrio e consciência individual.

As consciências coletivas limitam as suas atuações como seres únicos, brecando capacidades diferentes, inteligências naturais, armas perigosas como poder de persuasão e sentimentos de injustiça, desejos de evolução e diversão que envolva disputas em que haja vitoriosos de qualquer forma.

A vida é linear e os seres vivem como bois pastando com o olhar vazio, treinados para funções necessárias para manter a grande roda do tempo girando sem participação alguma.

Alimentam-se igual, não há resistência ou discordância, pois, foram palavras abolidas do novo dicionário. Não existem questões, escolhas ou pequenos prazeres, apenas existência fútil e desnecessária. Se e quando alguém morre é varrido como lixo para um grande local de reciclagem, como objetos. Nada de lamentos, choro, tristeza ou sofrimento. Treinados para aceitar o fim e substituir o que terminou por outro igual, sem perguntas.

Festas, calendários, datas de nascimento inexistem. Os nomes pouco importam, poderiam ser números, já que se dirigem uns aos outros por uma única palavra, como um apelido igual. Não há famílias, todos circulam livremente pela única residência geral. Como sentimentos não existem, procriam por instinto sem importar com quem, apenas para manter a roda girando e o trabalho compartilhado de forma equânime, com gerações piores.

Entre os líderes não existe mudança. Quando um morre é reconstruído quantas vezes seja possível, com as mesmas qualidades para exercer o mesmo trabalho. Quando essa possibilidade se esgota, alguém da casta o substituirá, portanto é imprescindível que os líderes mantenham as suas castas e procriem regularmente entre os seus, destruindo os que forem falhos em algum aspecto em nome do equilíbrio.

Impactos naturais os afetam e assustam, pois podem mudar a geografia, e com ela o poder. Por isso cuidam para que leis rígidas entre eles evitem que algum exerça mais poder do que o outro sequer por pouco tempo. Isso envolve negociatas em que parte da população pode ser eliminada ou trocada, até mesmo afastadas do convívio por anos, até que possam retornar.

É um mundo morto, fadado a repetir-se eternamente.

 

  Marcelo Gomes Melo

 

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