Dez
dias mergulhado entre facas e fuzis. Mover o corpo dolorido para qualquer parte
era penoso. O suor gelado cobria as têmporas e queimavam os olhos ao
atingi-los, deixando-os em brasa.
As mãos trêmulas, inertes, não tinham
força para afasta-lo, e se alastravam pelo corpo febril. As dores de cabeça
marcavam o ritmo dos devaneios, espalhando nonsense em ambiente incerto e não
sabido.
As
janelas fechadas, as cortinas formando uma barreira intransponível impedem que
o tempo seja contado em horas. O mundo parado na escuridão, sem luz natural ou
artificial que repartisse os dias em temor e fé.
Tudo
era uma imensa rua sem fim, coalhada de obstáculos e desafios cruéis e
irônicos. Os sons apavorantes se repetiam cada vez mais próximos, trazendo
consigo ansiedade e medo. Foco era a palavra chave para sobreviver, exausto,
respirar, hidratar o corpo e raciocinar lentamente a respeito do penar em vida
que nem todos percebem, e por isso se autodestroem, egoístas e infantis.
As
dores vêm e vão, as doenças são tratadas e a vida continua igual. Morrer não é
opção. Sobreviver, muito menos. Questionar-se é pedir tortura para si mesmo,
mais do que se possa aguentar.
Afastar-se
do mundo sob a própria armadura pode ser menos doloroso, mas não espere que os
outros entendam. Egoísmo é a balança dos hipócritas com os seus discursos
tolos.
Marcelo Gomes Melo
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