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Imperfeição



            Eu posso dançar para você sob o toldo da calçada olhando a chuva que emoldura o luar, refletir em minha expressão dura algo de patético, fingindo-me de inteligente através do silêncio... Posso lhe fazer sorrir e emocionar-se com sussurros de amor entre goles de vinho, definir o seu contorno com os dedos no ar, sem querer tocar-lhe a pele, causando arrepios intergaláticos em nós dois. Eu posso lavar a louça, cobrir o seu corpo com um fino lençol branco depois de fazer amor, soprar os seus cabelos no aguardo do amanhecer.
          Eu tenho como exalar proteção, apoiar com um simples olhar, lhe aconchegar em meu corpo enquanto simplesmente esperamos o ônibus...
          Não sei se faz parte do clichê o qual espera toda mulher, mesmo porque necessito de silêncio para sobreviver, e, às vezes me fecho em mim mesmo buscando recarga para suportar a alienação do mundo. Longe da perfeição, ajo sem pensar nas coisas que um gentleman deveria fazer, o que me tira da prateleira dos ajustados, aqueles que seguem os manuais de sedução para concorrer ao amante mais completo, um homem amado e admirado matematicamente por todas as áreas sociais humanas.
          Eu consigo sorrir com você, sorrir para você, viver para você facilmente, gerenciando as turbulências, negociando as impertinências, vivenciando largos períodos de paz, felicidade e prazer. Muito por causa das imperfeições. Da noção das impossibilidades, de não ir contra as apostas, sobreviver do que se tem e com o que se tem.
 


          Com isso seremos extremamente abençoados, teremos prazeres inigualáveis, histórias inesquecíveis! Não quero dizer com isso, entretanto, que durará para sempre, não se engane. Sendo mortal e imperfeito tenho prazo de validade para existir. Façamos de cada dia uma eternidade até que permaneçamos soltos no ar, etéreos...






Marcelo Gomes Melo

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