Para
escrever uma carta de amor, deve-se ter a consciência de que equivale a
espalhar bolhas de sabão perfumadas pelo ar. Uma carta de amor verdadeira deve
ser aberta ao universo, compartilhando particularidades essenciais para ajudar
a inserir mais uma preciosa peça no quebra-cabeças da paixão, intrínseca à
humanidade por merecimento ou castigo, dependendo do ponto de vista.
Uma carta de amor deve ser magnética e
colar em qualquer geladeira, qualquer muro ou poste, prender-se em qualquer
cérebro, cobrir a todo coração, percorrer os rios, os mares e as veias que
pertencem ao corpo.
Eis o princípio básico para escrever
uma carta de amor que suscite palpitações, pensamentos que varam a noite e
continuam a instigar constantes sentimentos e perguntas com múltiplas
respostas, apenas para confundir. O amor é confuso por natureza, o tempero
certo para os caldeirões dos desejos.
Então quando o lápis recebe suave
pressão entre os meus dedos, acredite, a sua cintura sentirá um firme puxão
atracando o seu quadril contra o meu. O delinear das letras sobre o branco
papel fino é o desnudar do seu corpo pelas minhas ávidas mãos, é a utilização
de todos os sentidos.
O envelope é a cama de flores na qual
lentamente conhecemos as reentrâncias dos nossos seres, atraídos com magnetismo
ímpar, misturados em essência e solidez, uma arma contra qualquer solidão.
O selo é a afirmação, a assinatura
para toda a voracidade que nos alimenta. Paixão e tesão como uma fornalha
intensa, imensa, que aquece a quem não pensa direito nos braços do amor.
Marcelo Gomes Melo
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